Modelos pedagógicos de EaD adequados ao Ensino Superior

Este painel contou com a participação de 3 oradores convidados e moderação de Paula Peres (Coordenadora do EIPP, ISCAP):

- João Filipe Matos – Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

- Bento Silva - Universidade do Minho

- Luís Borges Gouveia - Universidade Fernando Pessoa

João Filipe Matos, refletiu sobre os modelos pedagógicos nos 3 pontos do painel: Docência Tutoria e Avaliação dos/das Estudantes. Reforçou a necessidade de ter presente as missões das Instituições de Ensino Superior salientando a necessidade de não nos concentrarmos muito nas questões normativas, administrativas e técnicas e mais nos aspetos conceptuais. Refletindo sobre os modelos adequados ao Ensino Superior, considerou que é necessário compreender que o EaD, sendo diferente, não pode ser muito afastado do ensino presencial. A primeira interrogação que se coloca é o que é um modelo pedagógico.

O Decreto lei 83/2019 falha, pois não apresenta princípios do que pode ser um modelo pedagógico e quando nos interrogamos “Queremos privilegiar o trabalho vertical com os estudantes?”, “Queremos um misto?”, “O que queremos?”, “O que é trabalho pedagógico?”, não temos resposta. É necessário sabermos de que estamos a falar. Modelos psicopedagógicos a partir de J. Piaget ou sociopedagógicos de B. Bernstein.

O que faz um modelo?
Salientou a necessidade de se adequarem os modelos ao perfil e áreas da formação questionando a natureza da docência em EaD definindo princípios virados para o futuro. Há muitas maneiras de aprender e ensinar e para ensinar é preciso muito mais do que um saber específico, daí a necessidade de formação apoiada na investigação. Na verdade, para se ensinar, referiu: “não há inspiração divina”. É preciso olhar a docência e a tutoria com consciência formativa forte pois, não pode ser somente uma formação administrativa.

Relativamente aos estudantes salientou a necessidade de se pensar que a responsabilidade dos estudantes se desenvolve responsabilizando-os. Considerando que a avaliação é, neste documento, tratada de forma desastrosa, sugeriu que mesmo assim, ainda pode ser corrigida. A dificuldade em se compreender o significado da avaliação também se deve à confusão entre avaliação e formação o que gera prejuízo para os estudantes. De qualquer modo, este documento colocou todos em debate o que já é, do seu ponto de vista, positivo. Concluiu apelando à necessidade de revermos as nossas crenças e valores, como formadores e educadores.

Bento Silva, salientou que o Decreto-Lei no 83/2019 (DL) criou a oportunidade para este debate e veio numa altura em que os referenciais de qualidade são importantes.

Partindo da sua experiência na avaliação de cursos de mestrado na UMinho, referiu que a A3ES ou os painéis que avaliam os cursos frequentemente dizem que os cursos na modalidade b-Learning estão bem, preferindo saber como estão os outros cursos. Esta constatação é reveladora do significado da avaliação. Considerou que neste DL há uma linguagem desfasada “corta-se aqui e ali” e tudo funciona. Aliás, referiu: no debate ocorrido em Lisboa sobre “O Ensino Superior a Distância em Portugal”, o próprio Paulo Dias foi modificando e deixando “cair” alguns dos pressupostos do próprio DL. Portanto já se está a relativizar. Questionou-se sobre a competência e preparação dos políticos para definir o EaD e aprovar decretos lei.

Fazendo referência ao livro do “Observatório da Qualidade do Ensino a Distância e e-Learning” – que está sediado na UAB – salientou a trajetória inicial do estudo para um “Diagnóstico sobre o Ensino a Distância e e-Learning no Ensino Superior em Portugal” referindo a crescente mobilização das Instituições de Ensino Superior para o desenvolvimento de oferta educativa suportada por modelos de e-Learning. Fez questão de mostrar alguns dos dados do relatório nomeadamente: Tipos de frequência por instituição; Papeis do estudante: percursos e contextos; Papeis do professor: Orientação e diretividade; Formação de e-professores; Espaços e tempos de ensino; Avaliação: abordagens, tipos e instrumentos.

Relativamente aos Papeis dos estudantes: percursos salientou que o/a estudante tem pouca ação e que o/a professor/a define e dirige percursos. Ou seja, os estudantes têm um papel reduzido (pouco ou nada) na definição dos seus percursos de aprendizagem o que pode justificar a reduzida participação.

Relativamente à Formação de e-professores salientou a elevada correlação entre as variáveis “professor-orientador” e “professor-diretivo” sugerindo a necessidade de aprofundamento desta vertente (a elevada correlação pode sugerir a não diferenciação dos conceitos).

Relativamente aos Tempos e espaços de ensino os horários de lecionação online são flexíveis, com equipas de apoio aos estudantes e constituem a opção mais valorizada.

Este relatório mostra que a lecionação do curso se promove em horário rígido, síncrono, de acordo com os princípios tradicionais do ensino presencial e que na UMinho os colegas fizeram aprovar que 1 h é igual a 1.5 uma vez que o tempo despendido com os estudantes é superior. Completou a sua apresentação com o 3º tópico: Avaliação.

No estudo em que se apoiou, a avaliação entre pares, com recurso a portfólios, wikis, blogues, glossários e outros projetos colaborativos é a estratégia mais valorizada.

Há quem insista na avaliação presencial, mas desde que haja sessões síncronas não considerou que seja necessária “tanta trapalhada” (embaixadas contactadas, etc). Completou a sua apresentação salientando o tanto que ainda há para debater.

Luís Borges Gouveia, fez uma contextualização teórica convocando para o debate os contributos de Nelson L. Bossing, Robert S. Woodworth, Filburt Highet, Alvin Tofler entre outros, para responder a um contexto digital nas IES salientando que, os próprios modelos pedagógicos usam a pedagogia by design ou seja, um sistema aberto. Uma abordagem polémica em que se misturam modelos pedagógicos com metodologias de diferenciação e métodos de aprendizagem, pressupostos e conceções ideológicas diferentes sob o lema: tentar sempre, falhar sempre. Referindo que a questão central é a avaliação e a sustentabilidade das Instituições de Ensino Superior, desenvolveu a ideia de um ecossistema baseado em informação digital que vá ao encontro de quem quer aprender. Salientou as vantagens dos ambientes e aprendizagens ativas e da aprendizagem ao longo da vida em que é, talvez, necessário aprender que tem de se aprender, desaprender e reaprender.

Concluiu a sua apresentação com uma citação de Luc Ferry: “contrariamente ao ideal de civilização herdado do iluminismo, a globalização técnica é de facto um processo em simultâneo ingovernável, no estado atual do mundo, e sem finalidade, desprovido de todo o tipo de objetivo definido. Em suma, não sabemos para onde vamos nem por que razão vamos para lá”, Luc Ferry, La Révolution Transhumaniste, 2016.

Perspetiva da relatora sobre a temática: