Artigo

Selo Qualidade de Cursos

 

Paula Peres
PP/e-IPP
Politécnico do Porto | E-IPP/ISCAP, Portugal
Porto, Portugal
pperes@iscap.ipp.pt
Ângelo Jesus
PP/e-IPP/ESS/PP
Politécnico do Porto | E-IPP/ESS, Portugal
Porto, Portugal
acj@estsp.ipp.pt
Armando Silva
PP/e-IPP/ESE/InED/PP
Politécnico do Porto | E-IPP/ESE, Portugal
Porto, Portugal
asilva@ese.ipp.pt
Lino Oliveira
PP/e-IPP/ ESMAD/PP
Politécnico do Porto E-IPP/ESMAD, Portugal
Porto, Portugal
linooliveira@esmad.ipp.pt

 

Resumo

Medir a qualidade de um ambiente de aprendizagem é fundamental para obter algumas garantias de sucesso. Numa altura em que as experiências em ambientes de Formação em blended-learning são reduzidas, e que, as que existem apresentam características muito diversas, entendemos ser importante a criação de um “selo de qualidade” para, de alguma forma, certificar a formação em blended-learning (b-Learning) oferecida com o suporte da Unidade de e‑Learning e Inovação pedagógica do Politécnico do Porto (EIPP).

Este trabalho resulta de vários anos de investigação e experiência dos elementos da Unidade, que conta já com mais de 15 anos, quer como formandos, quer como formadores nestes contextos de ensino e aprendizagem. Este trabalho resultou também de um percurso de investigação no qual são considerados e analisados vários modelos internacionais de avaliação da qualidade dos ambientes de aprendizagem, incluindo a norma Portuguesa NP4545 “Requisitos para avaliação da qualidade de unidades curriculares e cursos com forte componente em e-learning”. A informação, os conceitos e os procedimentos aqui apresentados oferecem apoio aos professores e formadores que pretendam validar os requisitos mínimos para garantir a qualidade dos cursos oferecidos em regime de blended-learning.

Palavras-Chave: blended-learning, qualidade em e-Learning, modelos de avaliação da qualidade em ambientes educativos.

 

Abstract

Measure the quality of a learning environment is critical to get some assurance of success.
At a time when the experiences in blended learning environments are low, and those that exist have many different characteristics, we believe that it is important to create a "quality stamp" to somehow certify blended-learning (b-Learning) offered with the support of the unit of e-Learning and Pedagogical Innovation of the Polytechnic of Porto (EIPP).

This work is the result of several years of research and experience of the unit elements, which already has more than 15 years, either as students or as teachers in these teaching and learning contexts. This work also resulted from a research path in which are considered and analyzed several international models for assessing the quality of learning environments, including the Portuguese standard NP4545 "Requirements for assessment of the quality of courses with a strong component in e-learning ". The information, concepts and procedures presented here provide support for teachers and trainers who wish to validate the minimum requirements to ensure the quality of the courses offered in blended-learning.

Keyword: blended-learning, e-Learning quality, e-learning quality evaluation

 

Selo Qualidade de Cursos

 

Introdução

O e-learning tornou-se amplamente utilizado em todos os modos de educação (educação tradicional e formal, educação contínua e formação empresarial) essencialmente pelas suas características, como a flexibilidade, a riqueza de materiais interativos, a facilidade de partilha de recursos, de comunicação cognitiva, a relação custo-eficácia, etc.

O selo de qualidade apresentado neste trabalho, tem como foco os sistemas combinados de formação presencial e online (blended-learning ou simplesmente b-Learning).

O blended-learning tem sido amplamente utilizado no contexto do ensino superior. Abrange uma ampla gama de formatos de aprendizagem, incluindo autoestudo e tutoria, tanto em modo assíncrono como síncrono.

Entendemos um Sistema de blended-learning como um paradigma de ensino-aprendizagem semi-presencial que integra teorias e práticas de educação presencial e online ancorados num redesenho multiflexível, multimodal e multilinear. Esta definição encerra em si a necessária inovação pedagógica que exige a reflexão disruptiva e crítica sobre as práticas tradicionais no sentido da redefinição das estruturas comunicacionais entre os intervenientes nos processos de educação formal, não formal e informal.

 

Os sistemas de blended-learning representam uma alternativa ao ensino-aprendizagem tradicional e, portanto, teve que procurar o seu reconhecimento. Como consequência dessa necessidade, vários estudiosos têm procurado identificar os procedimentos para garantir a sua qualidade.

Avaliar a qualidade de um ambiente de aprendizagem, seja ele presencial, online ou misto não é fácil, pois não se trata de um conceito objetivo.

À medida que o número de cursos em blended-learning aumenta, é cada vez mais importante avaliar a qualidade oferecida de modo a auxiliar os potenciais utilizadores (docentes e estudantes) a ganhar confiança e a selecionar melhor entre as várias ofertas disponíveis.

Este trabalho pretende ser um guia para docentes e formadores que pretendam criar uma oferta de formação em regime de blended-learning.

Após mais de 15 anos de experiência nos ambientes de formação presencial, online e mista, acreditamos que podemos (devemos) redesenhar os objetivos, os currículos, os materiais, a avaliação e as metodologias no ensino e aprendizagem. Num modelo “mais presencial” nos cursos de licenciatura e “mais online” nos cursos de mestrado(Peres, Oliveira, Jesus, & Silva, 2016).

Se uma Unidade tem, por exemplo, uma carga horária de 3horas letivas semanais, distribuídas por 2 aulas de 1h30m de duração e 1h de atendimento pedagógico por semana, num total de 4 créditos ECTS, poderá desenhar-se a seguinte estrutura:

4 ECTS =112horas de trabalho na UC de FCD (1ECTS=28h)

30 aulas= 45 horas contacto (incluído a avaliação)

Trabalho autónomo = 65 horas

É esperado cerca de 4,5 horas de trabalho por semana (3h presenciais e 1,5h trabalho autónomo).

Modelos para a avaliação da qualidade de um curso online

Existem muitas pesquisas feitas na qualidade de e-learning EFQUEL (EFQUEL, 2011), E-xcellence (EADTU, 2012), Assurance Agency for Higher Education (AAHE), Open and Distance Learning Quality Council (ODLQC), Quality Matters Program (QM, 2011), SEEQUEL (SEEQUEL, 2004), Open ECBCheck Initiative (Ehlers, 2010) da EFQUEL (European Foundation for Quality in e-Learning), etc. No entanto, é difícil escolher um modelo para suportar o desenvolvimento de um ambiente de aprendizagem online e muito mais em blended-learning, dado que é necessário considerar diferentes perspetivas e diferentes níveis de detalhe. Simultaneamente, também é importante considerar as questões pedagógicas, institucionais e culturais que influenciam o sucesso de um ambiente de blended-learning específico.

Como tal, a principal ideia deste trabalho é apresentar uma referência que resuma as principais dimensões e critérios referidos nos modelos de qualidade existentes e acrescenta novos elementos pedagógicos no contexto da qualidade dos ambientes blended-Learning.
Neste trabalho, reunimos e organizamos todos os critérios de qualidade identificados nos modelos acima referidos, a fim de obter uma estrutura identificadora, não descritiva, mas  completa, prática, de fácil utilização e que se reflita nos ambientes blended-learning que protagonizamos. Também se inclui elementos e questões pedagógicas relacionadas com o próprio trabalho de investigação desenvolvido na unidade e a experiência em blended-learning no ensino superior português, adquirida ao longo de mais de 15 anos (Jesus, Silva, Peres, & Oliveira, 2015; Oliveira, Jesus, Silva, & Peres, 2015; Peres, Oliveira, Jesus, & Silva, 2017; Peres, Silva, Martins, & Faria, 2015; Silva, Peres, Jesus, & Oliveira, 2016).

 

Programa e Desenho do curso

A combinação de métodos de aprendizagem para formação online, presencial, autoaprendizagem, tutoria assíncrona ou síncrona, deverá ser adequada e atender às necessidades e características dos formandos. Esta escolha deve considerar o contexto profissional do público-alvo, a experiência e a aprendizagem anterior requerida nos pré-requisitos, não obstante a personalização de percursos de aprendizagem (Oliveira, Jesus, Silva, & Peres, 2015; Oliveira, Peres, Jesus, & Silva, 2016).

Objetivos da Aprendizagem

  1. Objetivos claros
  2. Mensuráveis
  3. Escritos na perspetiva dos alunos

Avaliação e Testes

  1. Critérios específicos e descritivos de cada componente de avaliação
  2. Modo formativo e sumativo
  3. Ambiente presencial e/ou a distância
  4. Alinhados com os objetivos da aprendizagem, permitindo a medição adequada da sua realização
  5. Múltiplas estratégias de avaliação, incluindo a autoavaliação

Currículo

A sequência de conteúdos deve ser desenhada de tal forma que permita a construção de caminhos flexíveis de aprendizagem, adaptados a diferentes estilos individuais e necessidades específicas:

  1. Do mais simples para o mais complexo
  2. Pequenos módulos
  3. Em linha com os objetivos

Cada sessão de um curso deve conter os seguintes elementos principais:

  1. Título da sessão
  2. Objetivos
  3. Breve descrição/tópicos
  4. Tempo estimado para o seu desenvolvimento
  5. Diálogo inicial
  6. Recursos digitais interativos
  7. Diálogo
  8. Atividades de aprendizagem e interação social e cognitiva
  9. Diálogo final
  10. Diário de bordo

Atividades de Aprendizagem

As atividades devem contemplar os seguintes elementos:

  1. Título
  2. Descrição Geral (natureza e tipo)
  3. Objetivos (específicos e transversais)
  4. Modelos Pedagógicos
  5. Sujeitos e Comunidade
  6. Ferramentas
  7. E-conteúdos
  8. Fases
  9. Divisão do Trabalho
  10. Regras
  11. Resultados

 

Materiais e Recursos de Aprendizagem

  1. Todos os elementos dos conteúdos auxiliam o formando a atingir os objetivos de aprendizagem
  2. Os materiais são estruturados de forma a facilitar o estudo individual, com menus e submenus logicamente estruturados
  3. Os conteúdos são disponibilizados de uma forma flexível, em pequenas partes (modulares), permitindo diferentes modos de aprendizagem
  4. Os conteúdos clarificam a necessidade de tempo para o estudo
  5. Os conteúdos são enriquecidos através de elementos multimédia
  6. Os materiais são estruturados de forma a desenvolver as capacidades de estudo e autodesenvolvimento
  7. Os conteúdos iniciam com um elemento desafiador motivador para o público-alvo
  8. Os materiais sugerem recursos adicionais suficientes
  9. Os conteúdos fornecem um glossário de termos associados
  10. Os conteúdos apresentam uma distinção entre estudo/leitura obrigatória e recomendada
  11. Os conteúdos incluem uma bibliografia comentada
  12. Todos os conteúdos são apresentados de forma clara numa linguagem simples
  13. Os conteúdos permitem interação que apresentam, avaliam e reforça o conhecimento
  14. Os materiais fornecem feedback aos formandos nas tarefas propostas
  15. Os conteúdos são adequadamente equilibrados em relação à carga cognitiva (Os conteúdos são suficientes e não exagerados para o tempo determinado)
  16. Os materiais são eficazes e não contêm erros significativos de factos, informação, conceitos ou abordagens desatualizadas
  17. Os conteúdos são inclusivos, respeitam a diversidade cultural e sensibilidade de géneros

 

Desenho dos Media

Acessibilidade

  1. Material de aprendizagem acessível e utilizável através de diferentes dispositivos, incluindo os dispositivos móveis

Usabilidade

  1. Tipo de letra utilizado confortável para a leitura, assim como as imagens, ilustrações, tabelas e outros elementos visuais
  2. Garantia da funcionalidade
  3. Garantia da atratividade
  4. Garantia da consistência
  5. Garantia da adaptação a diferentes estilos de aprendizagem

Navegação

  1. Bem organizado
  2. Fácil de navegação, capaz de apresentar e comunicar claramente todas as informações
  3. Consistência visual
  4. Consistência de funcionamento
  5. Informação sobre o progresso na navegação pelos materiais de aprendizagem obrigatórios
  6. Referenciação relativa ao conteúdo global, identificando a unidade, módulo, lição, parte de uma unidade, etc.

Impressão

Todos os ecrãs, tabelas com conteúdos e materiais de aprendizagem, incluindo conteúdos adicionais, devem apresentar uma versão própria para impressão.

Diversidade Cultural

  1. Consideração pela diversidade cultural intrínseca a um eventual público-alvo internacional
  2. Materiais de aprendizagem neutros quanto ao sexo, etnia, idade e outras questões relacionadas

Direitos Autorais

  1. Imagens, gráficos e ilustrações são livres de direitos de autor
  2. Imagens, gráficos e ilustrações quando duplicados/reutilizados são devidamente citados
  3. Imagens, gráficos e ilustrações quando duplicados/reutilizados são garantidos os respetivos direitos de utilização

 

Downloads

  1. Todos os materiais disponíveis para download
  2. Padrões razoáveis ​​de tempo para download
  3. Formatos comprimidos e regulares

Vídeo1: Materiais e recursos de aprendizagem

Conclusões

O principal objetivo do nosso trabalho foi investigar e desenhar um referencial que permita medir a qualidade de um ambiente de aprendizagem misto (online e presencial) que fundamente a criação de um “selo de qualidade” para a certificação da formação em b-Learning no Politécnico do Porto. Deste processo é feita a distinção entre o desenho da instrução (Programa e Desenho do curso) e o desenvolvimento dos Media de suporte a esse desenho. Foi ainda possível detalhar ao nível dos critérios das dimensões identificadas que especifica os elementos a considerar na preparação de um curso ou unidade curricular em regime de blended-learning. Este blended encerra em si um modo de estar nas instituições que orienta o processo curricular e a construção de percursos com foco no desenvolvimento de competências e resultados da aprendizagem. O processo objetivos aqui descritos pretendem guiar as metanarrativas educacionais, as interações pedagógicas, a negociação de significados e múltiplos sentidos de educação que se espera fazer refletir numa forma de estar na sociedade.

 

Referências

EADTU. (2012). Quality Assessment for E-learning: a Benchmarking Approach - Second edition. European Association of Distance Teaching Universities.

EFQUEL. (2011). UNIQUe guidelines.

Ehlers, U.-D. (2010). Open ECBCheck - Low cost, community based certification for E-learning in Capacity Building. InWEnt.

Jesus, Â., Silva, A., Peres, P., & Oliveira, L. (2015). Experiência de Formação Docente. In Livro de Artigos do CNaPPES 2015- 2015 – Congresso Nacional de Práticas Pedagógicas no Ensino Superior (pp. 65–71). Leiria, Portugal.

Oliveira, L., Jesus, Â., Silva, A., & Peres, P. (2015). Conceção De Cursos Em Regime e/b-Learning: Uma Experiência De Formação E Tutoria Online Numa Turma De Grande Dimensão. In Proceedings of the IX International Conference on ICT in Education. Braga: Univeridade do Minho, Centro de Competência em TIC.

Oliveira, L., Peres, P., Jesus, Â., & Silva, A. (2016). Formação para a Inovação Pedagógica no Politécnico do Porto. In P. Rosado Pinto (Ed.), CNaPPES 2016 – Congresso Nacional de Práticas Pedagógicas no Ensino Superior (pp. 251–256). Lisboa.

Peres, P., Oliveira, L., Jesus, A., & Silva, A. (2017). Designing learning paths: Contributions to the organization of b-learning initiatives. In 2017 12th Iberian Conference on Information Systems and Technologies (CISTI) (pp. 1–6). IEEE. https://doi.org/10.23919/CISTI.2017.7975727

Peres, P., Oliveira, L., Jesus, Â., & Silva, A. (2016). Face to face, virtual classroom, b-learning and e-learning: how to choose. In INTED2016 Proceedings (pp. 5306–5311). https://doi.org/10.21125/inted.2016.0262

Peres, P., Silva, M., Martins, C., & Faria, L. (2015). e-IPP - Unidade de e-Learning do Politécnico do Porto. In P. Peres, A. Mesquita, & P. Pimenta (Eds.), Guia Prático do e-learning - casos práticos ns organizações (pp. 71–87). Vida Económica.

  1. (2011). Quality Matters Rubric Standards 2011 - 2013 edition. Maryland Online, Inc.

SEEQUEL. (2004). Quality Guide to the non-formal and informal Learning Processes (Sustainable Environment for the Evaluation of Quality in E-Learning). Scienter-MENON Network.

Silva, A., Peres, P., Jesus, Â., & Oliveira, L. (2016). E-Learning - Contributions for One Prompt and More Personalized Tutoring. In The International Scientific Conference eLearning and Software for Education. Bucharest. https://doi.org/10.12753/2066-026X-16-149