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Sentimento de Competência Parental:
Estudo Comparativo entre pais com filhos com e sem Necessidades Educativas Especiais
Teresa Oliveira Débora Leite
Isabel Carneiro
Daniela Quintas
Joana Cruz
Luísa Marques Pinto Marta Almeida
Câmara Municipal de Matosinhos[1]
Resumo
O objetivo deste estudo foi comparar o sentimento de competência parental entre pais de filhos com Necessidades Educativas Especiais (NEE) e pais de filhos sem NEE. Participaram 418 pais, distribuídos por 3 grupos: Pais de filhos com NEE que não participaram nos Grupos de Desenvolvimento Parental (GDP); Pais de filhos com NEE que participaram nos GDP; Pais de filhos sem NEE. Para a recolha de dados foi utilizada a Escala de Sentido de Competência Parental, baseada na escala Parenting Sense of Competence (Gibaud-Wallston & Wandersman, 1978; Johnston & Mash, 1989). Esta escala avalia o sentimento de competência parental num modelo constituído por dois factores: a satisfação e a eficácia. Os resultados demonstraram não haver diferenças significativas relativamente à eficácia sentida no exercício do papel parental em função dos grupos. Não obstante, foram encontradas diferenças na variável satisfação, verificando-se que pais de filhos com NEE eram os menos satisfeitos com a sua competência parental; a satisfação parental é mais elevada de acordo com o aumento das habilitações literárias dos pais; os pais evidenciaram maior satisfação parental em comparação com as mães. Estes resultados permitem sugerir que as diferenças no sentimento de competência parental, nomeadamente na satisfação com a parentalidade, parecem estar relacionadas com a existência de filhos com NEE e com variáveis sociodemográficas, como as habilitações literárias dos pais e mães.
Palavras Chave: competência parental, NEE, satisfação parental.
Abstract
The aim of this study was to compare the feeling of parental competence between parents with children with SEN and parents with children without SEN. 418 parents participated, distributed in 3 groups: Parents with children with SEN who did not participate in the Parental Development Groups (PDG); Parents with children with SEN who participated in the PDG; Parents without children with SEN. For the data collection it was used the Parental Competence Sense Scale, based on the Parenting Sense of Competence scale (Gibaud-Wallston & Wandersman, 1978; Johnston & Mash, 1989). The results showed no significant differences between parental self-efficacy and the three groups of parents; fathers/mothers with children with SEN were the least satisfied with their parental competence; parental satisfaction is higher according to the level of parents' qualifications; the year of schooling of the children does not seem to interfere with the feeling of parental satisfaction; fathers exhibited higher parental satisfaction compared to mothers. These results suggest that the differences in the feeling of parental competence, particularly the satisfaction with parenting, seem to be related to the existence of children with SEN and with sociodemographic variables, such as parental qualifications.
Keywords: parental competence, SEN, parental satisfaction
INTRODUÇÃO
A parentalidade é um desafio diário. Os fatores que contribuem para o desempenho do papel de mãe e de pai são diversificados, implicando o desenvolvimento de competências parentais que, concetualmente tendem a organizarse em três constituintes distintos, nomeadamente a socialização, a cognição (aprendizagens) e a dimensão emocional (afetos e emoções).
Os estudos colocam em evidência a forte relação entre a autoestima dos pais e o bem-estar e práticas educativas parentais (Dekovic et al., 2010; Rogers & Mathews, 2004) e o comportamento das próprias crianças (Cunningham, 2007; Meunier & Roskam, 2009). Neste sentido, a investigação sugere que, quando os adultos se sentem competentes no seu papel parental, existe uma maior probabilidade de serem usadas práticas educativas eficazes, que originam processos de desenvolvimento positivos nas crianças (Gilmore & Cuskelly, 2008). A relação entre as cognições parentais e as interações existentes entre pais-criança (Bugental & Johnston, 2000; Dix & Grusec, 1985; Goodnow, 2002; Goodnow & Collins, 1990; Johnston, 1996; Okagaky & Bingham, 2005; Sigel & McGillicuddy De Lisi, 2002), são também bons indicadores de processos de desenvolvimento positivos nos filhos (Gilmore & Cuskelly, 2008).
Na literatura é recorrente o termo “sentimento de competência parental” para incluir as diferentes variáveis associadas ao modo como os pais percebem o exercício da sua função parental. De um modo geral, esta perceção parental traduz-se na autoestima dos pais/mães (como se veem enquanto pais/mães) e nas crenças de autoeficácia sobre o seu desempenho parental, ou seja, no modo como percecionam a sua eficácia neste papel (Bornstein, Hendricks, Hahn, et al., 2003; Coleman & Karraker, 2003; Cruz, 2005; Okagaky & Bingham, 2005; Teti & Gelfand, 1991).
Este constructo tem sido operacionalizado em dois elementos diferenciados, ainda que correlacionados: a satisfação derivada da parentalidade e o sentimento de autoeficácia percebido (Ohan, Leung, & Johnston, 2000). A satisfação parental refere-se à qualidade do afeto associado à parentalidade ou ao grau de satisfação derivado desse papel (Johnston & Mash, 1989). Esta dimensão relaciona-se com a forma como os pais percecionam as suas responsabilidades parentais e a sua interpretação (Sabatelli & Waldron, 1995). Por sua vez, o sentimento de autoeficácia percebido refere-se à avaliação individual que cada um faz acerca das suas capacidades enquanto pai/mãe para desempenhar esse papel e as dificuldades e obstáculos inerentes (Johnston & Mash, 1989).
No que diz respeito a estudos sobre o sentimento de competência parental e a relação com variáveis demográficas é observado que os pais registam resultados mais elevados na satisfação do que as mães (Gilmore & Cuskelly, 2008; Johnston & Mash, 1987; Rogers & Mathews, 2004), no entanto, as mães apresentam resultados mais elevados na eficácia percebida (Gilmore & Cuskelly, 2008). Constata-se também que o nível de satisfação parental aumenta com o nível escolar dos pais e não têm sido encontram diferenças em função da idade da criança (Gilmore & Cuskelly, 2008).
Relativamente a estudos sobre o impacto do sentimento de competência parental com pais/mães de filhos com Necessidades Educativas Especiais (NEE), Beck e colaboradores (2004) indicam que mães de crianças com défice intelectual revelaram-se mais satisfeitas com a sua competência parental. Por sua vez, Estes e colaboradores (2014) referem que o sentimento de competência parental não teve impacto no estudo da eficácia de um programa de intervenção para pais de crianças com autismo. Já Hui e colaboradores (2017) apresentam como resultados que o sentimento de eficácia parental é mais relevante na adoção de um estilo parental autoritativo em mães de crianças com défice intelectual do que em mães de crianças com desenvolvimento típico. Não foram encontrados estudos sobre a diferença nas perceções parentais, em função da existência de filhos com NEE. Face ao exposto, considerouse pertinente perceber se há diferenças no sentimento de competência parental em função da existência de filhos com e sem necessidades educativas especiais.
A Educação tem sido, ao longo dos anos, uma prioridade da Câmara Municipal de Matosinhos. A Educação Especial, em particular, é um desafio perante o qual urge encontrar respostas. O leque das NEE é deveras alargado, visto que inclui alunos com limitações significativas ao nível da atividade e da participação, num ou vários domínios de vida, decorrentes de alterações funcionais e estruturais, de carácter permanente, resultando em dificuldades continuadas ao nível da comunicação, da aprendizagem, da mobilidade, da autonomia, do relacionamento interpessoal e da participação social (Decreto-Lei nº3/2008). O número crescente de alunos abrangidos pelo Decreto-Lei nº 3/2008 e a importância da qualidade de intervenção junto desta população implicam a promoção de uma escola inclusiva, de pleno direito, onde a igualdade de oportunidades, as boas práticas e o sucesso educativo sejam uma realidade e não meras figuras de estilo. Neste contexto, surge o projeto Matosinhos Inclusivo, no sentido de melhorar a intervenção com crianças e jovens com NEE e, assim, responder adequadamente às várias solicitações impostas pela sociedade.
Partindo de uma avaliação de necessidades participada pela rede escolar pública no âmbito do Projeto Educativo Municipal, o projeto Matosinhos Inclusivo apresenta como objetivos a capacitação dos agentes educativos que lidam diariamente com alunos com NEE e a capacitação dos contextos em que estes alunos se encontram inseridos, de forma a promover a existência de respostas adaptadas a cada sujeito. Cofinanciado pela Fundação Calouste Gulbenkian e com uma preocupação ecossistémica, o projeto aposta quer no efeito exponencial das ações junto dos agentes educativos, que apresentam uma potencialidade multiplicadora da sua ação a diferentes alunos, quer na criação de condições físicas que potenciem a ação dos agentes educativos.
Adotando uma perspetiva ecológica do desenvolvimento, considerou-se que a melhoria da intervenção passava pela capacitação dos sistemas transpessoais e dos seus contextos. O foco de intervenção deveriam ser os microssistemas em que estes alunos se inseriam, dos quais a escola e a família são contextos privilegiados de relações proximais que potenciam e influenciam o quotidiano dos sujeitos, sendo valorizada a criação de parceiras com entidades da comunidade, nomeadamante a FPCEUP, o CFAE de Matosinhos, a Federação das Associações de Pais de Matosinhos e as Uniões de Freguesia do concelho.
No âmbito do trabalho desenvolvido no projeto Matosinhos Inclusivo, designadamente na intervenção com pais (através da criação de grupos de desenvolvimento parental), procurou-se perceber se o sentimento de competência parental varia em função da pertença a um dos três grupos presentes no estudo (pais de filhos com NEE que participaram nos GDP, pais de filhos com NEE que não participaram nos GDP e pais de filhos sem NEE). Procurou-se igualmente analisar em que medida esta perceção parental é distinta em função de variáveis como o género, as habilitações literárias dos pais e o ano de escolaridade dos filhos.
MÉTODO
Participantes
Participaram no estudo 418 pais, que se dividiam em três grupos: pais de filhos sem NEE (N = 320), pais de filhos com NEE que participaram em grupos de desenvolvimento parental no âmbito do Projeto “Matosinhos Inclusivo” (N = 32) e pais de filhos com NEE que não participaram nos referidos grupos (N = 66). Neste estudo consideraram-se alunos com NEE, aqueles que apresentavam limitações significativas ao nível da atividade e da participação, num ou vários domínios de vida, decorrentes de alterações funcionais e estruturais, de carácter permanente, resultando em dificuldades continuadas ao nível da comunicação, da aprendizagem, da mobilidade, da autonomia, do relacionamento interpessoal e da participação social, de acordo com o Decreto-Lei nº3/2008.
A integração dos pais destes alunos nos grupos de desenvolvimento parental (N = 32) relacionou-se com os critérios de disponibilidade e interesse parental para a realização das sessões. Deste modo, o que diferencia os dois grupos de pais com filhos com NEE é apenas a participação nos grupos de desenvolvimento parental, que não tinham ainda iniciado aquando da realização do presente estudo.
Responderam ao questionário maioritariamente as mães (76%). Em termos das habilitações literárias, constata-se que se distribuíam entre o 4º ano de escolaridade (N=15) e o doutoramento (N=5). Os pais e mães que participaram neste estudo apresentavam maioritariamente o 12.º ano de escolaridade. No que concerne o ano escolar dos filhos, verifica-se que a amostra é equitativa entre a educação pré-escolar e o 3.º ciclo do ensino básico. Apenas 24 pais tinham filhos a frequentar o ensino secundário.
Instrumentos
Os participantes no estudo responderam à Escala de Sentido de Competência Parental, baseada na escala Parenting Sense of Competence (Gibaud-Wallston & Wandersman, 1978; Johnston & Mash, 1989). A Escala de Sentido de Competência Parental foi validada para a população portuguesa por Seabra-Santos, Major, Pimentel, Gaspar, Antunes e Roque (2015). Nesta escala, os pais indicam o seu nível de concordância com as afirmações numa escala de 6 pontos (1-concordo fortemente; 6-discordo fortemente). Por exemplo, um item é “Ser pai é fácil de gerir e os problemas que surgem são facilmente resolvidos”.
A análise fatorial confirmatória assegurou o ajustamento dos dados a um modelo de dois fatores: a satisfação com a parentalidade, uma dimensão mais afetiva, e a eficácia sentida no exercício do papel parental, uma dimensão mais instrumental. Os valores de consistência interna podem ser considerados razoáveis, tanto para a escala total (α = .76), como para a subescala da Satisfação (α = .75) e para a subescala da Eficácia (α = . 72).
Procedimentos
Os questionários do grupo de pais de filhos sem NEE foram aplicados em reuniões individuais no final do 1.º período pelas psicólogas responsáveis pela implementação do Projeto Matosinhos Inclusivo; os questionários do grupo de pais de filhos com NEE que não participaram nos GDP foram aplicados em articulação com os professores da Educação Especial; os questionários do grupo de pais de filhos com NEE que participaram nos GDP foram preenchidos na primeira sessão dos referidos grupos. Refere-se que, quer o preenchimento do questionário, quer a participação nos GDP foi feita de forma totalmente voluntária, após lhes ser apresentado o consentimento informado de forma oral.
As Direções dos Agrupamentos de Escolas e Escolas não Agrupadas do concelho de Matosinhos que estão integradas no Projeto Matosinhos Inclusivo foram também informadas e autorizaram a aplicação da escala aos Encarregados de Educação.
Os dados dos questionários foram analisados através do programa IBM SPSS Statistics 19®, e foram realizados testes de comparação de médias entre grupos.
RESULTADOS
No sentido de perceber se os três grupos se diferenciam entre si no que respeita à perceção sobre a eficácia e satisfação parental foram efetuadas análises de variância univariada. Os resultados das análises relativas ao sentimento de eficácia parental permitiram verificar que não existem diferenças significativas entre grupos ao nível do grupo de pais (F = .78, p = .46), das habilitações literárias dos pais (F = .17, p = .99), do ano escolar dos filhos (F = .80, p = .57), nem no que diz respeito ao género dos pais (F = .95, p = .33).
No que diz respeito à satisfação com o papel parental, foram encontradas diferenças entre grupos no que diz respeito ao grupo de pais (F = 3.20, p = .042), às habilitações literárias dos pais (F = 3.61, p = .002), e ao género dos pais (F = 5.64, p = .018). No que diz respeito ao ano de escolaridade dos filhos, não foram encontradas diferenças significativas entre grupos (F = .21, p = .98). A estatística descritiva referente à relação entre a eficácia e a satisfação com o papel parental, em função do grupo de pais, encontra-se na Tabela 1.
Tabela 1. Estatística descritiva referente ao sentimento de eficácia no exercício do papel parental
A análise das diferenças entre os grupos (testes post hoc) relativamente às variáveis estudadas evidenciam que os pais de filhos com NEE que se inscreveram para participar nos GDP (M = 4,05; DP = 1,04) são os menos satisfeitos com a sua competência parental: há diferenças significativas entre estes pais e entre pais de filhos com NEE que não participam nos GDP (M = 4.60; DP = .89; p = .016) e também entre estes pais e pais de filhos sem NEE (M = 4.52; DP = 1.04; p = .018).
Também foi possível verificar, no que diz respeito às habilitações literárias dos pais, que pais com licenciatura (M = 4.92; DP = .57) encontram-se mais satisfeitos do que pais com 4.ºano (M = 4.17; DP = 1,07; p = .005), 6.º ano (M = 4.16; DP = 1.06; p < .001) e 9.º ano de escolaridade (M = 4.38; DP = 1.08; p = .001).
Puderam verificar-se diferenças de género na amostra do presente estudo: os pais que responderam ao questionário (M = 4.78; DP = .67) revelam estar mais satisfeitos com a sua competência parental do que as mães (M = 4.43; DP = .97; p = .018).
DISCUSSÃO
Neste estudo procurou-se perceber se as perceções parentais relacionadas com o seu sentimento de eficácia parental variam em função da existência de filhos com NEE. No que diz respeito ao sentimento de eficácia no exercício do papel parental, não foram encontradas diferenças significativas, tendo em conta as variáveis sociodemográficas em estudo (habilitações literárias dos pais, ano de escolaridade dos filhos, género) e os três grupos de pais que constituíram a amostra. Estes resultados vão ao encontro do descrito na literatura, com exceção da variável género, como apresentam Gilmore e Cuskelly (2008), onde as mães revelaram resultados mais elevados na eficácia sentida no exercício do papel parental do que os pais.
No que concerne à satisfação com a parentalidade, os resultados do presente estudo sugerem que pais/mães de filhos com NEE que se inscreveram para participar nos grupos de desenvolvimento parental se encontravam menos satisfeitos com a sua competência parental, o que parece indicar que o interesse na participação nos grupos poderá estar relacionado com uma necessidade de ajuda percecionada por esta população.
Os resultados da satisfação parental revelaram ainda diferenças estatisticamente significativas na variável sociodemográfica habilitações literárias, na medida em que pais com licenciatura se revelaram mais satisfeitos com a parentalidade, do que pais com 4º ano, 6º ano e 9º ano de escolaridade. Efetivamente, o aumento das habilitações literárias e o contexto educacional tem vindo a ser associado a um desenvolvimento psicológico mais saudável e, consequentemente, a uma melhor realização na vida (Balão, 2012). Desta forma, os resultados do presente estudo corroboram estudos prévios (Gilmore & Cuskelly, 2008).
Foram encontradas diferenças de género na satisfação com a parentalidade, verificando-se que os pais que responderam ao questionário mostraram-se mais satisfeitos com a sua parentalidade, comparativamente às mães. A prestação de cuidados carateriza-se como uma experiência stressante e de grande impacto a nível individual em várias dimensões: física, psicológica, económica, etc. (Hutton & Caron, 2005). Uma vez que, nas sociedades ocidentais, é a mãe que assume, grande parte das vezes, o papel de cuidador da criança com NEE (Olsson & Hwang, 2001; Aylaz, Yilma & Polat, 2012), naturalmente, será também a mãe a demonstrar níveis de satisfação inferiores. Acresce que, relativamente às responsabilidades escolares referentes ao seu filho, no presente estudo, as mães assumiam, na maioria das vezes, o papel de Encarregada de Educação.
O ano de escolaridade dos filhos parece não interferir no sentimento de competência parental (com as dimensões de eficácia e satisfação) junto dos pais de filhos com NEE e pais de filhos sem NEE. Segundo Wieland e Baker (2010), os pais de crianças com algum tipo de incapacidade intelectual, após alguns anos de convivência com a criança, adaptam-se às exigências e necessidades da mesma e encaram a prestação de cuidados como um desafio. Uma vez que a idade das crianças está intimamente relacionada com o seu nível de escolaridade, depreende-se que os participantes do presente estudo também terão adquirido competências e estratégias que os ajudaram na adaptação às exigências e necessidades que o desenvolvimento e nível de escolaridade implicam, independentemente da existência de necessidades específicas.
De um modo geral, os resultados obtidos no presente estudo permitem-nos concluir que as diferenças no sentimento de competência parental, nomeadamente no fator de satisfação com a parentalidade - a sua dimensão mais afetiva- parecem não estar relacionadas com a existência de filhos com NEE, mas antes com variáveis sociodemográficas.
Os resultados obtidos neste estudo não devem ser considerados representativos da população portuguesa de pais de crianças/jovens com NEE, tendo em conta que se trata de um processo de amostragem por conveniência. Em futuros estudos sugere-se a possibilidade de participarem pais e mães de forma equitativa, bem como a distribuição dos sujeitos por grupos ser equivalente.
Perante estes resultados, poderá ser pertinente integrar novas variáveis em futuros estudos, incluindo, nomeadamente, o índice de stress parental, assim como avaliar a funcionalidade dos filhos.
De um modo geral, este estudo permite contribuir para o corpo de investigação sobre a competência parental, designadamente com pais de crianças e alunos com NEE, salientando a necessidade de mais estudos com esta população, que possam orientar a intervenção psicológica e favorecer o bem-estar psicológico e o desenvolvimento destas famílias.
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[1] Email para contacto: joana.cruz@cm-matosinhos.pt