O efeito mediador do conflito trabalho-família na relação entre a insegurança laboral e a (in)satisfação no trabalho na indústria hoteleira Algarvia
DOI:
https://doi.org/10.26537/iirh.vi11.5280Palavras-chave:
insegurança laboral, satisfação no trabalho, conflito trabalho-família, hospitalidade, trabalho dignoResumo
Várias iniciativas têm procurado envolver as organizações da indústria do turismo e hotelaria em práticas de responsabilidade social e sustentabilidade. A indústria tem sido apontada como um player decisivo para o alcance dos objetivos da Agenda 2030 (UN, 2015), sendo diretamente mencionada em três dos mesmos, incluindo o objetivo referente ao trabalho digno e crescimento económico (ODS 8).
Sendo um dos principais empregadores a nível mundial é importante que se afaste da imagem negativa que tem e ofereça melhores condições laborais. Desde há muitos anos que a indústria é caracterizada por uso de mão-de-obra intensiva e custos fixos elevados (Elshaer & Marzouk, 2021; Mullins, 2004), procura flutuante e sazonal, o que não impede que seja constantemente requerido aos seus trabalhadore/as grande disponibilidade e prestação de um serviço de elevada qualidade (Desfitrina et al., 2019; Nickson, 2007; Osei et al., 2022). É também caraterizada por insegurança e instabilidade laboral elevada que traz para os trabalhadores e trabalhadoras um elevado grau de desgaste mental e emocional (Hellgreen et al., 1999; Sverke et al., 2002), baixa satisfação no trabalho (Vujičić et al., 2014), e coloca em causa o seu desenvolvimento, reconhecimento pessoal e profissional (de Witte, 2005; Vargas-Jiménez et al., 2020). No contexto do turismo e da hotelaria em Portugal, a insegurança contratual ou precariedade no trabalho está também muito associada ao uso massivo do trabalho temporário (Fonseca, 2017), com todas as consequências negativas que o mesmo acarreta para os trabalhadore/as em termos de estabilidade, reconhecimento do seu trabalho e remunerações baixas, assim como situações de maior fragilidade social (Lopes, 2017).
A presente pesquisa partiu destas preocupações para investigar como a insegurança laboral percebida por trabalhadore/as da indústria da hospitalidade se relaciona com os seus níveis de (in)satisfação no trabalho, analisando o papel da articulação entre esferas de vida (conflito trabalho-família e conflito família-trabalho) como potencial fator mediador explicativo dessa relação.
Para tal desenvolveu-se um estudo por inquérito a trabalhadore/as de hotéis localizados na região do Algarve, uma das principais regiões turísticas do país, reconhecida internacionalmente como destino de excelência de turismo de sol e praia, mas com ofertas complementares diversas (ex., golf). Participaram no estudo 166 trabalhadore/as de hotéis de 4 e 5 estrelas. O inquérito em papel e lápis incluía as seguintes medidas: medida de satisfação no trabalho de Warr et al. (1979); medida de insegurança laboral quantitativa (De Witte, 2000); escala de conflito trabalho-família e família-trabalho de Carlson et al. (2000). Observaram-se as orientações da declaração de Helsínquia na recolha de dados, garantido o anonimato e confidencialidade das respostas. Dada a natureza transversal da recolha de dados em fonte única, aplicou-se a técnica de Harman que sugere que a ameaça de variância de método comum não é preocupante nos dados recolhidos (Bozionelos & Simmering, 2022; Podsakoff et al., 2003).
Os dados foram analisadas com recurso ao SPSS e à macro PROCESS (Hayes, 2018). O/as participantes reportaram baixos níveis de insegurança laboral e conflito nas duas direções em análise e relativa satisfação com a situação de trabalho. Ao encontro das hipóteses propostas, os resultados de análises de regressão múltipla revelaram que a insegurança no trabalho está significativamente relacionada com a satisfação do trabalho, tanto direta como indiretamente através do conflito trabalho-família. O conflito família-trabalho não revelou mediar a relação. Foram apoiadas duas das três hipóteses de estudo.
Com base nestes resultados, sugere-se que a direção dos hotéis deve monitorizar e melhorar continuamente a satisfação do trabalho dos trabalhadore/as, nomeadamente, proporcionando segurança ao emprego e implementando práticas que promovam o equilíbrio entre trabalho e família. Só assim poderão dar um contributo efetivo para o alcance de condições de trabalho digno aos seus trabalhadore/as e assumir-se como agentes de desenvolvimento sustentável.
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