Apolo e Artemis em teletrabalho: diferenças na relação entre as violações das fronteiras trabalho-família na recuperação dos professores

Autores

  • Madalena Mascarenhas Faculdade de Psicologia Universidade de Lisboa
  • Vânia Sofia Carvalho Faculdade de Psicologia Universidade de Lisboa
  • Maria José Chambel Faculdade de Psicologia Universidade de Lisboa

DOI:

https://doi.org/10.26537/iirh.vi11.5267

Palavras-chave:

Recuperação, distanciamento do trabalho, violações das fronteiras, teorias de género, teletrabalho

Resumo

O teletrabalho e o confinamento obrigatório vividos durante a pandemia da COVID-19 é descrito como um exemplo da desigualdade entre géneros na articulação entre o trabalho e a família. Para tal contribuíram as violações das fronteiras entre a família e o trabalho (i.e., a intromissão não desejada de um domínio no outro, com consequências negativas para o domínio violado), muito frequentes no confinamento obrigatório onde os teletrabalhadores partilharam a casa com os outros elementos da família. Estas violações porque diminuíram o tempo e a disponibilidade necessários para a recuperação, prejudicaram o distanciamento psicológico do trabalho (Charalampous et al., 2019). De acordo com a teoria dos papéis (Pleck, 1997), a pessoa investe mais recursos no papel que lhe é mais revelante (Powell & Greenhaus, 2010) e procura preservar as fronteiras desse domínio, sendo que para as mulheres o papel mais saliente é o familiar enquanto para os homens o papel mais saliente é o laboral (Pleck, 1997; Powell & Greenhaus, 2010). Quando o papel mais relevante para a pessoa é violado, esta tende a investir mais nesse domínio para atenuar os efeitos negativos. Assim, este estudo teve como principal objetivo verificar se as violações da família no trabalho e do trabalho na família tinham repercussões diferentes na recuperação de homens e mulheres, tendo para tal testado o efeito moderador do género na relação entre as violações das fronteiras e a recuperação. Para tal realizou-se um estudo cross-sectional com uma amostra constituída por 921 professores universitários brasileiros em teletrabalho, tendo sido utilizados os seguintes instrumentos: escala de violação das fronteiras (Hunter et al., 2017), e a adaptação para a língua portuguesa do Recovery Experiences Questionnaire (Sonnentag & Fritz 2007).

Os resultados obtidos permitem verificar, como esperado, que as violações do trabalho na família são particularmente prejudiciais para a recuperação das mulheres e as violações da família no trabalho são mais prejudiciais para a recuperação dos homens. Assim quando o papel familiar das mulheres é violado, estas investem mais na vida familiar para mitigar os efeitos negativos, o que não lhes permite ter tempo para recuperar. Os homens, pelo contrário, quando a família invade o seu papel profissional, tenderão a investir mais nesse papel por forma a compensar o tempo ou a energia perdidos e, consequentemente, terão menos possibilidade de recuperar. Os resultados obtidos corroboram a maior dificuldade das mulheres em recuperar quando trabalham no espaço dedicado à família (Hartig et al., 2007), tendo o facto de as mulheres terem assumido maioritariamente o papel familiar no confinamento obrigatório, no qual a quantidade de violações do trabalho na família foi agravada (Carvalho et al., 2021; Leroy et al., 2021), o que prejudicou a sua recuperação. Por outro lado, as violações da família no trabalho prejudicam a recuperação, especialmente no caso dos homens, para os quais o trabalho é o papel central (Pleck, 1997). No contexto do confinamento obrigatório, as violações da família no trabalho foram muito frequentes, o que levou muitos homens a deparem-se com maiores dificuldades em manterem as suas estratégias de preservação do trabalho, prejudicando a sua capacidade de se desligarem do trabalho.

Os principais contributos deste estudo dizem respeito às diferenças entre homens e mulheres na relação trabalho-família, particularmente como a gestão destes domínios pode afetar de forma diferente a sua recuperação.

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Publicado

2023-07-10

Como Citar

Mascarenhas , M., Carvalho , V. S., & Chambel , M. J. (2023). Apolo e Artemis em teletrabalho: diferenças na relação entre as violações das fronteiras trabalho-família na recuperação dos professores. Conferência - Investigação E Intervenção Em Recursos Humanos, (11). https://doi.org/10.26537/iirh.vi11.5267

Edição

Secção

People Management, Well-being, and Worker Experience