Trabalho por turnos no setor do retalho alimentar: desafios ao work-life balance
DOI:
https://doi.org/10.26537/iirh.vi11.5257Palavras-chave:
Trabalho por turnos, Work-life balance, Setor do retalho alimentar, Práticas gestionáriasResumo
O trabalho por turnos tem-se revelado como uma solução consistente para colmatar o acesso limitado a bens e serviços. Nesse sentido, com a industrialização das economias e a crescente e competitiva oferta do mercado, as empresas começaram a adotar o trabalho por turnos, sendo que os trabalhadores ficaram sujeitos a vários modelos de trabalho, que podem incluir fins de semana, feriados e horas noturnas (Costa, 2003; Sánchez-Vidal et. al., 2012; D’Oliveira & Anagnostopoulos, 2020).
Considerando o interesse em investigar, de forma saturada, as perceções dos trabalhadores do setor do retalho alimentar em relação à presença de turnos no seu horário de trabalho, elencou-se, como objetivo geral da pesquisa mais ampla que enquadra esta comunicação, identificar as implicações do trabalho por turnos na conciliação entre trabalho, vida pessoal, familiar e conjugal dos trabalhadores deste setor. Adicionalmente, procurou-se compreender as perceções dos trabalhadores sobre o trabalho por turnos, enumerar os motivos que levam os trabalhadores a eleger esta modalidade de trabalho, explorar os impactos sentidos na conciliação da vida profissional com os restantes papéis sociais e, também, identificar as estratégias acionadas pelos trabalhadores por turnos para potenciar a conciliação entre esferas de vida.
De forma a responder aos objetivos da pesquisa, foi adotada uma abordagem qualitativa baseada em entrevistas semi-estruturadas realizadas a 15 trabalhadores por turnos de três empresas multinacionais do setor do retalho alimentar e que, à data da entrevista, se encontravam a exercer funções há pelo menos 2 anos nesta modalidade de horário de trabalho.
Os resultados da investigação sugerem árduos desafios experimentados pelos trabalhadores na conciliação do trabalho com a vida fora deste. Assim, foi possível identificar vários impactos negativos sentidos na saúde física e mental, vida conjugal, gestão diária de compromissos e conflito de papéis sociais dos trabalhadores expostos a uma prestação de trabalho por turnos. Em linha com estudos previamente realizados (Rodríguez & Dabos, 2016; De Andrade et al., 2017; Cadena-Baquero et al., 2020; Wöhrmann et al., 2020; Martins et al., 2018; Erdamar & Demirel, 2014; Pinheiro & Carlotto, 2016; Greenhaus & Beutell, 1985; Voydanoff, 2002; Pimenta et al., 2014; Martins et al., 2018; Barros, 2020; Cadena-Baquero et al., 2020) os resultados evidenciam como principais impactos: (i) cansaço psicológico, (ii) a ausência física e emocional do cônjuge, (iii) o ajuste constante da rotina e (iv) o conflito trabalho-família.
Alguns estudos têm vindo a identificar práticas que possam favorecer o work-life balance para os trabalhadores por turnos, ou mesmo tornar esta modalidade de trabalho mais atrativa. Destaca-se, a título exemplificativo, reformular a rotatividade das folgas (Knauth, 1993; Moreno et al., 2003), diminuir a carga horária semanal (Guerreiro et al., 2006; Williams, 2008), permitir mais flexibilidade informal ao trabalhador para agilizar a vida familiar e social (Anderson et al., 2002; Gornick & Meyers, 2003; Sánchez-Vidal et al., 2012; Haar et al., 2014; Barros, 2020), melhorar as compensações monetárias (Wedderburn, 1991; Moreno et al., 2003).
Auscultados sobre potenciais boas práticas organizacionais que gostariam de ver implementadas, os trabalhadores por turnos entrevistados, referiram: progressão de carreira, dado que muitos trabalhadores deste regime possuem habilitações académicas ao nível do ensino superior e manifestam um sentimento de falta de desafio profissional tendo em conta as tarefas operacionais que executam, diminuir o foco nos ganhos financeiros, algo que afeta vertiginosamente as empresas deste setor do retalho alimentar, e aumentar o centramento nas pessoas, nos trabalhadores e nas suas necessidades, bem como existir uma remuneração plena de todas horas laboradas (horas extraordinárias).
A pesquisa realizada permitiu evidenciar especificidades dos contextos laborais neste setor de atividade económica, apontando para a necessidade de revisão das condições laborais, designadamente ao nível da remuneração, da carga horária, dos benefícios sociais, assim como do aprofundamento da discussão sobre o encerramento permanente dos estabelecimentos de retalho alimentar ao domingo.
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