A formação profissional dos docentes do ensino superior no contexto da pandemia Covid-19: o caso de uma organização em Portugal
DOI:
https://doi.org/10.26537/iirh.vi11.5256Palavras-chave:
COVID-19, Docentes do Ensino Superior, Emergency Remote Teaching (ERT), Formação Profissional, Atribuições CausaisResumo
A pandemia de covid-19 obrigou os docentes do ensino superior a adaptar-se em tempo recorde ao EaD. A larga maioria dos docentes foi confrontada de forma abrupta com uma realidade completamente desconhecida, levando Hodges et al. (2020) a considerar mais adequado utilizar o termo Emergency Remote Teaching (ERT) para retratar a adaptação abrupta e, muitas vezes, sem preparação prévia dos docentes ao EaD.
Neste contexto, a formação profissional dos docentes tornou-se um elemento crucial no processo de adaptação à mudança imposta pela pandemia. Tal como afirmam Zalbaza et al. (2014, p. 50), “ainda que a formação, por si só, não garanta a melhoria da docência, constitui um elemento substancial em qualquer processo de mudança”. Alguns autores destacaram a importância de considerar o papel da formação dos docentes na adaptação às novas modalidades de ensino (e.g., Gamage et al., 2020; Yang & Huang, 2021; Yusuf & Ahmad, 2020; Müller et al., 2021), no entanto, poucos estudos aprofundaram diretamente a problemática da formação profissional dos docentes do ensino superior no atual contexto da adaptação ao ensino remoto (Latif & Alhamad, 2023; Mohmmed, 2020). E, que tenhamos conhecimento, ainda não existem estudos publicados que tenham versado sobre esta temática em Portugal.
Tornou-se, então, pertinente analisar o papel da formação profissional dos docentes na adaptação ao ERT. Sabemos, ainda, desde o estudo pioneiro de Nishii et al. (2008), que a forma como os trabalhadores interpretam as práticas de recursos humanos (PRH) reveste-se de grande importância, “o que implica que a teoria da atribuição pode oferecer alguns insights valiosos” (Fontinha et al., 2012, p. 833). Que tenhamos conhecimento, não existem estudos que efetuem uma análise simultânea da formação profissional e das atribuições causais desta PRH. Revisões recentes (Hewett, 2021; Sander et al., 2021) referem a necessidade de futuros estudos se debruçarem sobre o contexto das PRH específicas e não apenas sobre o sistema de PRH, como tem sido a tendência da investigação nesta área.
O objetivo geral desta investigação focou-se em compreender o papel da formação dos docentes de uma Organização do Ensino Superior em Portugal, na adaptação ao ERT. Como objetivos específicos, pretendeu-se caracterizar a formação profissional destinada aos docentes, caracterizar a formação que ocorreu na adaptação ao ERT, analisar a perceção dos docentes relativamente às práticas de formação adotadas pela Organização, analisar a perceção dos docentes sobre a formação destinada ao ERT e analisar as atribuições causais dos docentes em relação às práticas de formação.
Tratando-se de um estudo exploratório-descritivo, optou-se por uma metodologia mista, recorrendo a técnicas qualitativas (entrevista semiestruturada e análise documental) e a técnicas quantitativas (questionário online). As técnicas qualitativas utilizadas serviram de base à elaboração da escala sobre as ações de formação implementadas na Organização. As práticas de formação profissional foram medidas através de 4 itens da escala “High Performance Work Sistem” de Takeuchi et al. (2007). As atribuições causais foram medidas através de 4 itens da escala “HR Attributions” de Nishii et al. (2008).
Responderam ao questionário 55 docentes (taxa de resposta 32,2%).
Os resultados encontrados mostram que as ações de formação que apresentaram uma maior adesão por parte dos respondentes correspondem à plataforma Moodle, que foi definida como obrigatória para a disponibilização dos materiais pedagógicos. Os resultados mostram, ainda, que a adesão dos docentes de carreira foi superior à dos docentes convidados, em todas as formações de EaD disponibilizadas pela Organização, resultados que estão de acordo com a tendência referida por Zalbaza et al. (2014).
As perceções dos docentes sobre as práticas de formação profissional indicam que, em média, estes apresentam uma posição neutra quanto a considerarem que a formação é contínua e quanto ao acesso à formação ser claro e compreensível. Os docentes, em média, “concordam moderadamente” que a formação oferecida aposta no desenvolvimento de competências e conhecimentos relevantes para a Organização e que a formação está adaptada às funções desenvolvidas. Não obstante, o desvio padrão (DP) sugere que existem docentes com perceções contrárias sobre estas questões.
Quanto às atribuições causais relativas à prática de formação, os resultados mostram que, em média, os docentes apresentam uma posição neutra quanto às atribuições de compromisso e discordam quanto às atribuições de controlo. Contudo, o DP destas duas variáveis reflete alguma discrepância face à média.
Este estudo contribui para a literatura existente, abrindo pistas para futuros trabalhos que se debrucem sobre o papel da formação profissional dos docentes do ensino superior e das atribuições causais sobre as práticas de formação no desenvolvimento de atitudes e comportamentos positivos.
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