Comportamentos de comprometimento organizacional e de cidadania orgnizacional

Resumo

O contexto de instabilidade atual, ao nível económico, financeiro e social trouxe consigo uma maior insegurança laboral para os trabalhadores a quem é exigida mais flexibilidade, extinguindo-se o “emprego para a vida”. Neste âmbito, Meyer e Allen (1997) reforçam a necessidade dos trabalhadores se manterem empregáveis para, na eventualidade de serem dispensados, reunirem condições para se empregarem noutra organização. No entanto, a pressão imposta pela procura de empregabilidade pode fazer com que o indivíduo se sinta mais comprometido com a sua carreira do que com a organização onde trabalha (Cabral-Cardoso, 2000).

Meyer e Allen (1997) referem que o estudo do Comprometimento organizacional não perde oportunidades, nem pertinência, ainda que esteja condicionado por todas as mudanças na estrutura e configuração das organizações. Mais do que nunca, possuir uma força de trabalho comprometida com a organização afigura-se um fator preponderante de vantagem competitiva, sendo, portanto, fundamental que as organizações compreendam o mecanismo pelo qual o comprometimento se desenvolve e como este influencia atitudes e comportamentos.

Associado ao Comprometimento Organizacional surgem os Comportamentos de Cidadania Organizacional. Estes constituem comportamentos discricionários, não direta ou explicitamente reconhecidos pelo sistema de recompensa formal, e que, no seu conjunto, promovem o funcionamento eficaz da organização (Organ, 1988, cit. in Rego, 2002). O Comprometimento Organizacional aparece como uma variável potencialmente explicativa dos Comportamentos de Cidadania Organizacional (Caetano e Tavares, 2000; Jarros, 1997; Organ e Ryan, 1995, cit. in Ribeiro, 2009).

Os Comportamentos de Cidadania Organizacional são hoje vistos como comportamentos necessários para a sobrevivência das organizações, uma vez que não faz sentido que os membros organizacionais apenas executem as tarefas que lhes estão consignadas na descrição das suas funções. Por um lado, porque num ambiente turbulento como vive o atual mundo empresarial, haverá necessidade de Comportamentos deste tipo (espontâneos, cooperativos e inovadores) que contribuam para responder às contingências e imprevisibilidades organizacionais (Cunha et al., 2007). Por outro lado, “qualquer organização que dependa apenas de comportamentos prescritos é um sistema muito frágil” (Cunha et al., 2007: 304). As organizações precisam de pessoas que desenvolvam atividades espontâneas, inovadoras e cooperativas como forma de melhor atingir as finalidades organizacionais. Constituem pois comportamentos cruciais para o bom funcionamento dos grupos e das próprias organizações.

Tendo em consideração a problemática anunciada, o presente estudo pretende analisar os “COMPORTAMENTOS DE COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL E DE CIDADANIA ORGANIZACIONAL”. O objetivo geral do estudo é, assim, analisar o «Comprometimento Organizacional» e os «Comportamentos de Cidadania Organizacional», ou seja, discutir e analisar em que medida o Comprometimento Organizacional profissionais se relaciona com os Comportamentos de Cidadania Organizacional, e consequentemente verificar se o Comprometimento Organizacional é ou não uma variável explicativa dos Comportamentos de Cidadania Organizacional.

O objeto central do estudo é uma instituição de ensino superior, nomeadamente o seu corpo docente. A técnica de investigação utilizada foi o inquérito por questionário constituído por três partes: a primeira parte incidiu sobre as dimensões de comprometimento organizacional; a segunda parte sobre os comportamentos de cidadania organizacional; a terceira parte sobre as variáveis sociodemográficas dos inquiridos. A amostra é constituída por 49 profissionais (35%).

A opção por estudar uma instituição do ensino superior deve-se ao facto destas instituições estarem a viver, de há uns anos para cá, tempos muito confusos e difíceis, que adquirem uma particular expressão no contexto de crise financeira atual. A evolução centrada no conhecimento colocou as instituições de ensino superior no centro do debate, nem sempre pelas melhores razões, sendo indiscutível, porém, o seu cada vez mais importante papel no aumento da capacidade competitiva dos países. Todavia, e paradoxalmente, princípios como os da autonomia das instituições de ensino superior, autonomia institucional, liberdade académica, estabilidade do corpo docente, etc. podem estar a ser postos em causa. Esta situação tem, inevitavelmente, impacto num dos vetores fundamentais destas instituições – o seu corpo docente. Analisar de que forma se encontram “comprometidos” com a instituição e que tipo de comportamentos de cidadania organizacional preconizam são questões que se colocam na atualidade.

Os resultados indicam que a diferente conjugação das dimensões definidoras do Comprometimento Organizacional destes profissionais (normativo, afetivo e instrumental), está na base de modelos contrastantes ao nível dos Comportamentos de Cidadania Organizacional. Conclui-se, assim, que os docentes possuem diferentes níveis de Comprometimento Organizacional, os quais ancorados por diferentes Comportamentos de Cidadania Organizacional. Comprometimento Organizacional e Comportamentos de Cidadania Organizacional sustentam e são sustentados num processo de inter-relação mútua.