A carreira sem fronteiras revisitada sob a ótica da performatividade
DOI:
https://doi.org/10.26537/iirh.v0i5.2197Palavras-chave:
Carreira sem fronteiras;, Performatividade;, Carreira;, Mercado de trabalho;, Recursos humanos;Resumo
As mudanças na carreira profissional passaram a ser largamente abordadas na produção acadêmica de diversas áreas do conhecimento, especialmente a partir da década de 70. Seja na psicologia, na administração ou na sociologia, a transformação das grandes organizações abriu terreno para diversas teorias que apresentaram a nova realidade do trabalho e as perspectivas para a construção da carreira. Dentre essas diversas teorias, a de Carreira sem Fronteiras (Boundaryless Career) foi uma das que mais ganhou fama, permeando o meio acadêmico e empresarial e sendo amplamente discutida até o presente. Contudo, autores como Ricardo & Guest (2010) indicam a falta de sustentação teórica para o modelo teórico de Carreira sem Fronteiras, uma vez que dados quantitativos indicam falta de correspondência entre o que é apresentado por essa teoria e a realidade do mercado de trabalho.
O objetivo deste trabalho é reforçar a crítica de Ricardo & Guest com dados quantitativos referentes ao período entre 1994 e 2012 de três países (Alemanha, Espanha e Estados Unidos) e, em seguida, responder ao seguinte questionamento: o que pode explicar o contrassenso de que um modelo teórico altamente aceito e disseminado não tenha suporte empírico? Para tal, foram utilizados os conceitos de performativity e calculative agents propostos por Callon (2005). Pode-se, assim, analisar a Carreira sem Fronteiras não através de sua relação com a “verdade”, mas pela ótica do sucesso em instrumentalizar os indivíduos em seus cálculos cotidianos. Espera-se assim transcender a crítica à teoria e inaugurar uma nova perspectiva de análise para o campo do estudo da carreira.
Concluímos que a relevância da Carreira sem Fronteiras se dá por seis principais motivos: (1) a apresentação simplificada do contexto do trabalho possibilita o cálculo em um imprevisível cenário globalizado; (2) havia respaldo empírico no período em a teoria foi lançada; (3) há uma percepção subjetiva geral, conforme estudiosos apresentam, de se estar “sem fronteiras” na contemporaneidade; (4) a instituição na qual o inaugurador da “Carreira sem Fronteiras”, Michael Arthur, trabalha detém credibilidade no meio acadêmico; (5) a consonância entre o argumento da “Carreira sem Fronteiras” e os interesses do que teóricos apresentam como “discurso do management”; (6) as próprias práticas de recursos humanos baseadas na Carreira sem Fronteiras passam a moldar a realidade em direção à teoria.
Com base na análise acima, colocamos a Carreira sem Fronteiras sob um olhar maior do que o da correspondência ou não com a realidade. Abre-se, assim, espaço para que os “pontos cegos” da teoria sejam revistos e as práticas de recursos humanos ajustadas.