A ativação do sistema medo do subordinado na sua relação com o líder
DOI:
https://doi.org/10.26537/iirh.v0i5.2174Palavras-chave:
Relação líder-subordinado;, Sistema medo;, Comportamento defensivo;, Estilo de vinculação;Resumo
O presente trabalho de investigação foca o sistema medo do subordinado na sua relação com o líder em situações percebidas como críticas (difíceis e/ou problemáticas). Procurou-se identificar os comportamentos do líder passíveis de ativar no subordinado este sistema comportamental inato e explorar se o estilo de vinculação pode relacionar-se com o tipo de comportamento adotado pelo subordinado nessas situações. Com base nas estratégias básicas de defesa ou autoproteção do self, referidas por Heard, Lake e McCluskey (2009) – fight, flight, freeze e nos modos de submissão/domínio – procurou-se identificar os comportamentos adotados pelo subordinado que traduzem cada uma destas estratégias e identificar as consequências e o impacto destas situações.
Com vista a alcançar os objetivos propostos aplicou-se a Técnica dos Incidentes Críticos (TIC, Flanagan, 1954) e o Modelo Categorial de Avaliação do Estilo de Vinculação Adulta, de Hazan e Shaver (1987), a 15 trabalhadores de uma organização do setor público local, em contexto de entrevista. A informação recolhida foi analisada com recurso ao NVivo 10.0, tendo-se procedido à análise de conteúdo dessa informação, obtendo-se um índice de acordo intercodificador de 94,48%.
Os resultados permitem diferenciar dois tipos de comportamentos do líder que ativam o sistema medo do subordinado: comportamentos verbais e comportamentos físicos. Os primeiros podem ser diretos (ex.: ameaçar ou amedrontar, falar bruscamente, menorizar o subordinado ou o seu trabalho) ou indiretos (ex.: bloquear a integração e prejudicar), ao passo que os segundos podem assumir uma de duas formas: ativa (ex.: gesticular) ou passiva (ex.: evitar o contacto). O subordinado reage a estes comportamentos adotando uma ou mais estratégias de defesa simultaneamente, sendo a estratégia de fight a estratégia dominante, seguida pela estratégia de freeze. Os participantes associaram consequências positivas e negativas a estas situações críticas, que se manifestam a dois possíveis níveis: no subordinado e na sua relação com o líder. As consequências mais referenciadas prendem-se com a instabilidade ou desgaste emocional do subordinado e com a sua perceção de fracasso ou desmotivação.
Os resultados obtidos deverão ser entendidos como um ponto de partida para futuras investigações e, neste domínio, as inferências retiradas deverão ser testadas com base na condução de estudos de natureza dedutiva. De forma a clarificar a possível associação entre o estilo de vinculação do subordinado e o seu comportamento quando o seu sistema medo é ativado poderá ser pertinente avaliar o estilo de vinculação dos subordinados, nomeadamente no que se refere à relação com o líder, com recurso a outros instrumentos.
Considera-se que o presente estudo contribui para a investigação acerca da liderança e do bem-estar em contexto de trabalho, ao caracterizar situações que ocorrem entre líderes e subordinados e que, pelo facto de serem percecionadas pelo subordinado como criticas e problemáticas, ativam o sistema medo deste último. Este trabalho sublinha a necessidade premente de consciencialização dos líderes acerca do impacto negativo que a adoção de determinados comportamentos, nomeadamente, aqueles que aqui são identificados, pode ter nos subordinados e na relação que estes estabelecem com os seus supervisores, influenciando o bem-estar individual e, por conseguinte, o bem-estar organizacional.
Os resultados encontrados enfatizam ainda a importância de refletir sobre as dinâmicas comportamentais em meio organizacional e definir estratégias capazes de minimizar potenciais episódios críticos. Destaca-se, nesta sequência, o importante papel dos psicólogos em contexto organizacional, bem como das estruturas responsáveis pelos recursos humanos.
Este trabalho representa uma mais-valia ao estudar uma problemática ainda pouco explorada - a ativação do sistema medo dos subordinados na relação que estabelecem com os líderes e as estratégias de defesa adotadas na sequência desta ativação. Um ponto de originalidade presente neste trabalho de investigação reside, também, no recurso à teoria da vinculação para compreender a dinâmica da relação entre a díade líder-subordinado.