Novos modelos de organização do trabalho e práticas de gestão de recursos humanos: um estudo exploratório no sector das TIC
DOI:
https://doi.org/10.26537/iirh.v0i5.2161Palavras-chave:
Práticas de gestão de recursos humanos;, Novos modelos de organização do trabalho;, Trabalho do conhecimento;Resumo
A flexibilidade organizacional tem sido difundida nas últimas três décadas como uma condição sine qua non para a sobrevivência das empresas em contextos de elevada incerteza e concorrência económica. Segundo preconizado, a flexibilidade organizacional passa pela introdução de novos modelos de organização do trabalho e pela introdução de práticas alternativas de trabalho (Godard, 2001) ou práticas de elevado compromisso (Guest, 2001). Entendem-se genericamente como práticas alternativas de trabalho ou práticas de elevado compromisso (Guest, 2001) aquelas que pressupõem o trabalho em equipa, promovem empowerment, a responsabilidade na tomada de decisão, a cooperação intra e inter-grupal e a formação e desenvolvimento dos trabalhadores. Ou seja, pressupõe a criação de conteúdos e condições de trabalho que facilitem o desenvolvimento de competências individuais e colectivas, bem como a capacidade de aprendizagem individual e organizacional, por forma a aumentar a adaptabilidade e o leque de respostas das empresas às necessidades do meio. As empresas do sector das TIC, designadas como empresas de trabalho de conhecimento e/ou que recorrem ao conhecimento como “fator-chave de produção” (Alvesson, 2001; 2004) ou ao conhecimento como matéria-prima (Nurmi, 1998), apresentam-se à priori como as mais capazes e/ou receptivas para adoptar os novos modelos de organização do trabalho e práticas alternativas de trabalho, na medida em que são empresas que operam em contextos de elevada inovação tecnológica e competitividade económica. Não obstante isso, os vários estudos têm reforçado que as mudanças organizacionais, em geral, e a introdução práticas alternativas de trabalho pelas empresas seguem diferentes estratégias organizacionais que são modeladas por vários factores do contexto interno e externo, sendo que nos países europeus essas mudanças, sobretudo ao nível da gestão de recursos humanos são realizadas mais devido a imposições legais do que por iniciativa estratégica das empresas (Gooderham et al., 2004), ou seja, são introduzidos mais processos de “isomorfismo institucional” do que “isomorfismo competitivo” (DiMaggio e Powell, 1983).
Neste quadro, o presente trabalho teve como objectivo estudar os factores que modelam as práticas organizacionais e de gestão de recursos humanos numa empresa do sector das TIC. Do ponto de vista metodológico foi realizado um estudo exploratório, recorrendo à metodologia de estudo de caso (Yin, 1994), tendo como objectivos específicos: (1) caracterizar a estratégia da empresa; (2) caracterizar o modelo organizacional; (4) caracterizar os modelos de organização do trabalho; (5) caracterizar as práticas de gestão de recursos humanos. Foram utilizadas diversas técnicas e fontes de recolha de informação desde o inquérito por entrevista (entrevistas semi-diretivas) aos trabalhadores, a análise de documentos da empresa e a observação participante.
Os resultados obtidos parecem corroborar os estudos sobre os modelos organizacionais e de organização do trabalho nas empresas deste sector, nomeadamente no que respeita à adopção de estruturas matriciais com a organização do trabalho em equipas semiautónomas e com modelos de gestão de recursos humanos pouco formalizados, que se caracterizam por modelos de valor (Pichault e Schoenaers, 2003).