Satisfação profissional e burnout dos técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica do centro hospitalar universitário de Santo António
DOI:
https://doi.org/10.26537/iirh.vi12.6030Palavras-chave:
Satisfação profissional, Burnout, Técnicos Superiores de Diagnóstico e Terapêutica, Profissionais de saúdeResumo
A satisfação no trabalho entende-se como a avaliação geral do profissional sobre o seu trabalho,, tratando-se de uma resposta emocional à própria atividade laboral.
A variável `satisfação no trabalho´ é amplamente estudada, encontrando-se presente em muitas teorias sobre o comportamento organizacional e está relacionada com o desempenho e o comportamento contraproducente no trabalho, a rotatividade e a saúde do funcionário.
O trabalho na área da saúde é um trabalho especial de cuidado humano cuja interação com o doente e familiares, com outros profissionais e com as chefias acarreta sentimentos negativos que podem levar ao burnout.
O burnout é caracterizado pela exaustão física e emocional consequente da exposição prolongada a um trabalho exigente emocionalmente. Corresponde a uma resposta ao stress excessivo no trabalho e afeta as habilidades interpessoais, o desempenho no trabalho, a satisfação profissional e a saúde psicológica.
A avaliação da satisfação profissional e do burnout desempenham importantes indicadores da qualidade dos serviços prestados e são fatores determinantes no sucesso de uma organização.
O presente estudo visa identificar os níveis de satisfação profissional e de burnout nos Técnicos Superiores de Diagnóstico e Terapêutica (TSDT´s) do Centro Hospitalar Universitário de Santo António (CHUdSA) bem como, averiguar se os níveis de satisfação profissional e de burnout variam de acordo com as variáveis sociodemográficas (idade, sexo, estado civil e formação académica) e com as variáveis de caracterização da situação profissional (categoria profissional, tipo de vínculo, tempo de exercício no CHUdSA e tempo de exercício profissional).
Por forma a cumprir com os objetivos estabelecidos, foi desenvolvido um estudo transversal, descritivo/observacional, correlacional e quantitativo.
A recolha de dados fez-se através da implementação da versão reduzida do Minnesota Satisfaction Questionnaire (MSQ) e da escala Maslach Burnout Inventory - Human Services Survey (MBI - HSS) à população em estudo, bem como da caracterização sociodemográfica e da situação profissional da mesma.
A versão reduzida do Minnesota Satisfaction Questionnaire consiste num inquérito de satisfação em que avalia os aspetos intrínsecos e extrínsecos do trabalho. Os aspetos intrínsecos referem-se ao que as pessoas sentem acerca da natureza das tarefas do trabalho e os aspetos extrínsecos ao que sentem em relação a aspetos do trabalho que são externos às tarefas ou ao trabalho em sim, como por exemplo, o salário.
A escala Maslach Burnout Inventory - Human Services Survey avalia a síndrome de burnout dos profissionais em três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e realização pessoal. A exaustão emocional é descrita com sentimentos de desgaste, cansaço, fadiga e esgotamento. A despersonalização é definida como uma resposta de distanciamento e indiferença em relação ao trabalho e/ou às pessoas que o recebem. A realização pessoal traduz-se numa autoavaliação positiva do próprio trabalho.
Os dados foram sujeitos a uma análise estatística com recurso ao SPSS, considerando um nível de significância estatística de 0,05. Procedeu-se à análise descritiva das variáveis sociodemográficas e de caracterização da situação profissional; à análise da consistência interna das escalas em estudo através do cálculo do Alfa de Cronbach; à análise da normalidade das variáveis quantitativas através do teste de Kolmogorov-Smirnov; ao calculo da média, desvio-padrão, mínimo e máximo da pontuação total do MSQ, subescalas intrínseca e extrínseca e das dimensões do burnout exaustão emocional, despersonalização e realização pessoal; à analise da existência de correlações estatisticamente significativas com recurso aos coeficientes de correlação de Pearson e Spearman; e à análise da existência de diferenças estatisticamente significativas com recurso ao teste t para duas amostras independentes, ao teste de Mann-Whitney, e ao teste Kruskall-Wallis.
Participaram 117 TSDT’s, correspondendo a cerca de 34% da população, maioritariamente do sexo feminino (72,6%) e com idades médias de 42,84 ± 9,75. 61,5% indivíduos encontram-se casados ou em união de facto; 76,1% possuem licenciatura; e 47,9% têm um contrato individual de trabalho sem termo. O tempo de serviço no CHUdSA e o tempo de exercício profissional variam entre 1 e 40 anos, sendo as médias de tempo de 15,81 ± 10,56 e de 19,53 ± 10,08, respetivamente. Os TSDT´s do CHUdSA apresentam níveis moderados de satisfação profissional (53,84±12,89), baixos de despersonalização (4,68±4,05), médios de exaustão emocional (21,79±12,48) e altos de realização pessoal (28,91±10,37). Os TSDT´s com menos idade (r=-0,19), menos tempo de exercício profissional (r=-0,20) e na base da carreira manifestam-se mais satisfeitos profissionalmente com os aspetos intrínsecos ao trabalho. Os contratados sem termo exibem-se mais satisfeitos com os aspetos extrínsecos. Já os funcionários públicos sentem-se mais realizados pessoalmente.
A satisfação profissional está associada à menor idade e ao menor tempo de experiência profissional, podendo tal ser devido à pouca oportunidade destes profissionais de vivenciar outros empregos e ambientes de trabalho, não apresentando, desta forma, meio de comparação. Os TSDT´s encontram-se estagnados a nível de progressão profissional, daí a maioria da amostra (n=106) encontrar-se na base da carreira. Os profissionais manifestaram menos satisfação profissional com os especto extrínsecos da MSQ total, referindo-se maioritariamente à progressão profissional e ao salário.
Os níveis de burnout variam de acordo com o tipo de vínculo, sendo os TSDT´s contratados por função pública (n=47) os que se encontram mais realizados pessoalmente devido à estabilidade do emprego.
Os resultados do estudo indicam que, de um modo geral, os TSDT´s do CHUdSA encontram-se satisfeitos profissionalmente e apresentam baixos níveis de burnout. No entanto, é urgente a atualização das carreiras por parte da gestão hospitalar e a implementação de medidas de prevenção. Sugere-se a realização de mais estudos sobre a satisfação profissional e a síndrome de burnout na classe profissional dos TSDT´s onde se relacione a satisfação profissional e o burnout com variáveis de prevenção, como o engagement, a motivação e o coping.
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