A Conciliação das esferas da vida:
o caso das cuidadoras de crianças portadoras de doença crónica
DOI:
https://doi.org/10.26537/iirh.vi9.2868Palavras-chave:
Conciliação, cuidadoras, doença crónica, políticas sociaisResumo
A problemática da conciliação da vida profissional com a vida familiar e pessoal tem vindo a ganhar uma centralidade crescente quer nos planos social e político, quer no plano académico. A visibilidade mediática que o fenómeno adquiriu tem permitido assistir a uma preocupação crescente em discutir as dificuldades em conciliar essas diferentes esferas da vida de que as mulheres são as principais vítimas. Neste contexto, a investigação académica tem desempenhado um papel fundamental ao dar visibilidade às condições concretas em que essas dificuldades de conciliação se manifestam bem como às causas e consequências de tal fenómeno (Greenhaus e Beutell, 1985; Torres, 2005). Vários são os estudos que, partindo da constatação de uma participação crescente da mulher no mercado de trabalho, chamam a atenção para o elevado número de casais de “duplo emprego” ou “dupla carreira” (Perista e Lopes, 1999; Gornick e Meyers, 2003) o que conduz, particularmente nestes casos, a um aumento das dificuldades de conciliação das diferentes esferas da vida, não só pelas exigências associadas ao emprego e às condições e horários de trabalho (Torres, 2005; Guerreiro et al, 2006; Santos, 2008; Casaca, 2013) mas também pela desigual distribuição das responsabilidades associadas ao trabalho doméstico (Perista et al, 2016).
A conciliação das esferas da vida parece assumir um grau de dificuldade acrescido sempre que a familia é confrontada com a existência de descendentes ou ascendentes dependentes. As familias que se confrontam com a existência de descendentes dependentes vítimas de doença crónica parecem deparar-se com dificuldades acrescidas, sendo as mulheres que abdicam da sua vida profissional para assegurar o acompanhamento dos filhos, assumindo-se como as cuidadoras primárias (Araújo, 2011). Tendo em conta que a doença crónica tende a persistir no tempo, os seus efeitos tornam-se visiveis em múltiplos aspetos da vida dos atores intervenientes dos quais se destacam o casamento, as carreiras e as relações com os outros (Santos et al, s.d.).
Tendo por objetivo caracterizar as estratégias de conciliação das diferentes esferas da vida adotadas pelas cuidadoras de crianças portadoras de doença crónica, realizamos um estudo exploratório de natureza qualitativa tendo como população alvo as mães cuidadoras de crianças portadoras de cancro cujo tratamento é feito no IPO de Lisboa. A recolha de dados baseou-se em entrevistas semidiretivas realizadas a uma amostra por conveniência de oito cuidadoras. Para o tratamento de dados recorremos à análise de conteúdo categorial.
Os resultados obtidos permintem-nos concluir que, também no caso por nós estudado, são as mães que abdicam da sua vida profissional e pessoal para assumir o papel de cuidadoras sendo essa opção influenciada não só por razões socio-culturais mas também por razões financeiras. Destaca-se também o papel quer dos familiares diretos, incluindo filhos menores, quer das redes de solidariedade informal constituidas quer por vizinhos e amigos quer por mães que com elas partilham a mesma condição de cuidadoras.