Entre a mudança prescrita e a mudança vivida.
A perceção dos dirigentes sobre as mudanças estratégico-funcionais numa instituição de ensino superior público politécnico.
DOI:
https://doi.org/10.26537/iirh.vi9.2832Palavras-chave:
Mudança Organizacional, Ensino Superior Politécnico, Recursos humanos, RJIESResumo
A imposição dos novos modelos de gestão e, mais precisamente, do New Public Management, ao sistema de ensino superior público (OECD, 2007; OECD, 2003), tem imposto às instituições de ensino superior (IES) um conjunto de mudanças estratégica-funcionais. Essas mudanças consubstanciaram-se com a introdução, em 2007, do novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) (Decreto-Lei nº 369/2007, de 5 de novembro), que enquadrado no paradigma do New Public Management pressupõe e reforça, em traços gerais uma maior racionalização dos recursos, a forte orientação para a competitividade e a angariação de fundos próprias através do desenvolvimento de estratégias que incluem diversificação e/ou consolidação da oferta formativa, atração de novos públicos, maior prestação de serviços especializados à comunidade e novas estruturas e dinâmicas de funcionamento e comunicação interna e externa. Partindo dos pressupostos de que as IES gozam de autonomia científica, pedagógica, cultural e disciplinar, conferida pelo Decreto-Lei supracitado, e que perante a legislação têm autonomia para definir as suas próprias estratégias e processo, no presente trabalho pretendeu-se analisar as perceções dos dirigentes sobre as mudanças estratégico-funcionais nos “serviços de apoio” decorrentes da introdução do RJIES numa instituição de ensino superior politécnico. Considerando que uma IES possui o que Mintzberg (1995) denomina de características predominantes de uma burocracia profissional, caracterizando-se pela estandardização das qualificações e sendo constituída, em traços gerais, por três grandes corpos: os docentes e investigadores (centro operacional qualificado e autónomo), não docentes (apoio administrativo e logístico) e os estudantes, por motivos de exequibilidade e tendo em conta que o objetivo era conhecer as mudanças nos “serviços de apoio” foram objeto de estudo os dirigentes que faziam parte do vértice estratégico (Presidência) e do apoio administrativo (Chefes de Serviço), não sendo contemplado os “dirigentes” das Unidades Orgânicas nem dos órgãos compostos pelos centro operacional (docentes).
Os objetivos específicos foram conhecer a perceção dos dirigentes sobre: 1) as opções estratégicas da IES; 2) O percurso e evolução dos Serviços após a publicação do RJIES; 3) o efeito no funcionamento das equipas de trabalho; 4) a comunicação organizacional; 5) a formação das pessoas para a mudança; 6) os novos perfis dos trabalhadores do apoio administrativo das IES.
Do ponto de vista metodológico recorreu-se a um estudo qualitativo, que incluiu cinco entrevistas semiestruturadas a uma amostra de dirigentes da presidência e aos chefes de serviço das diferentes divisões e a análise documental, tendo-se realizado a análise de conteúdo categorial.
Os principais resultados revelam que a principal mudança foi a centralização dos serviços numa lógica de otimização de recursos coerente com o paradigma do New Public Management. Os discursos denunciam essa narrativa gestionária, bem como o facto de a mudança ter decorrido em vários tempos com várias consequências sobre a perceção e apropriação das mudanças por parte das diferentes equipas. Os grandes desafios ou pontos fracos parecem ser a comunicação organizacional e o conhecimento e/ou comprometimento com a estratégia organizacional.