Estar dentro, estando fora
Da expatriação como prática de GRH disjuntiva
DOI:
https://doi.org/10.26537/iirh.vi7.2703Palavras-chave:
Gestão Internacional de Recursos Humanos, Expatriação, Identidade, Liminaridade, Disjunção, RepatriaçãoResumo
A expatriação, perspectivada enquanto modalidade específica de exercício de trabalho e de gestão de recursos humanos (GRH) observável num contexto de internacionalização empresarial, pode delimitar novas oportunidades de aprendizagem para indivíduos e organizações. O presente artigo perspectiva a expatriação como prática de GRH contemporânea, produtora de contextos particulares de integração social e organizacional, de natureza disjuntiva e liminar.
A expatriação tem vindo a ser problematizada como contexto de interacções de natureza liminar, não isentas de paradoxo, de ambivalência (Joly, 1990 [1996]; Osland, 2000; Osland & Osland, 2005; Costa & Cunha, 2009), de um sentido de disjunção (Appadurai, 1990).
A existência de um conjunto crescente de estudos sobre o posicionamento liminar dos indivíduos nos contextos de trabalho (Garsten, 1999; Ashforth, 2001; Beech, 2011; Tempest & Starkey, 2004; Sturdy et al., 2006; Borg & Soderlund, 2014), reflecte uma mudança das lógicas que enformam os processos de integração profissional contemporânea, uma circunstância que desafia, de modo sensível, no tempo presente, os modos de organização das práticas de GRH nas empresas (Ulrich, 1997; Ulrich & Beatty, 2001).
No caso particular da expatriação, a necessidade dos indivíduos envolvidos concretizarem uma redefinição discursiva, integrando a diferença, o paradoxo, a potencial ambiguidade de papéis e de pertenças, são correlatos de experiências que enaltecem a especificidade de inscrição da sua acção. O expatriado, “estando dentro, estando fora” (Borg & Soderlund, 2014), apresenta-se, deste modo, como exemplo das “liminal personae” (Turner, 1967), cuja acção se inscreve transitoriamente nos interstícios das estruturas sociais.
Partindo da análise de fontes secundárias (Brookfield GRS, 2014, 2015, 2016) e de estudos de caso de práticas de gestão da repatriação, o “choque da volta” (Joly, 1990 [1996]), a dificuldade do momento do “regresso” (Lazarova & Tarique, 2005; Kraimer et al., 2009; Szkudlarek, 2010; Kraimer et al., 2012;), é apresentada como caso empírico que ilustra o acento disjuntivo, liminar, dos quadros de acção constituídos pelas práticas de gestão de expatriação contemporâneas.