Valores societais em Portugal: replicação do projeto globe 17 anos depois e implicações para a gestão de recursos humanos
DOI:
https://doi.org/10.26537/iirh.vi7.2651Palavras-chave:
Cultura, valores, práticas, gestão de recursos humanosResumo
Este trabalho tem como objetivo descrever a cultura societal em Portugal em termos de práticas e valores. Procurou-se responder às seguintes perguntas de investigação: Como se caracterizam as práticas e os valores culturais em Portugal? Qual a evolução do perfil cultural português desde a primeira aplicação do projeto GLOBE (1996) até ao presente? Os resultados podem ser úteis para se perspetivar a influência da cultura societal na cultura das organizações e nas práticas de gestão de recursos humanos no país. As práticas, normas e valores a nível macro social afetam a forma como as pessoas se comportam na vida social e organizacional, bem como os diversos processos organizacionais (Malhota et al., 2011; Zaidman e Brock, 2009 Zhao et al., 2004). Vários são os estudos que demonstraram que as práticas de gestão de recursos humanos são diferentes de país para país refletindo os valores da cultura nacional em que estão inseridas (e.g. Alas et al., 2008; Aycan, 2005; Stone et al., 2007). Na recolha de dados foi utilizada a escala de cultura societal desenvolvida pelo GLOBE (House et al., 2004) que mede os valores culturais (“como deveriam ser as coisas”) e as práticas culturais (“como são as coisas”). A aplicação foi feita com recurso a um questionário ao qual responderam 353 participantes. Tal como nos restantes estudos que utilizaram o modelo do GLOBE foram encontradas diferenças entre o que os participantes acreditam ser as normas que deveriam ser aplicadas e aquelas que correspondem aos comportamentos atuais presentes na sociedade. Em Portugal, os valores que apresentam níveis mais elevados são a assertividade, a igualdade de género e a distância ao poder, enquanto os mais baixos são a orientação para o desempenho e a orientação humana. Quanto às práticas que apresentam níveis mais altos são a orientação humana, a orientação para o desempenho, o evitamento da incerteza e a assertividade. Com níveis mais baixos surgem a distância ao poder e o coletivismo endogrupal. Comparando com os resultados do GLOBE (1996) verifica-se que a nível dos valores, todas as dimensões apresentam atualmente níveis mais baixos com exceção da distância ao poder e da assertividade. Quanto às práticas, existem descidas expressivas na distância ao poder e no coletivismo endogrupal. O conhecimento dos valores e práticas culturais tem o potencial de poder contribuir para promover a adequação da gestão de recursos humanos no sentido de influenciar positivamente o bem-estar dos trabalhadores e a eficácia das organizações.