Escala de responsabilidade social percebida: desenvolvimento e validação de instrumento para trabalhadores
DOI:
https://doi.org/10.26537/iirh.v0i4.2129Resumo
A pesquisa sobre o impacto da responsabilidade social das organizações (RSO) nas atitudes e comportamentos dos trabalhadores é escassa (Aguinis & Glavas, 2012), sendo vários os pedidos de maior investimento na compreensão dos impactos da RSO ao nível individual (ex., Aguilera et al., 2007; Maignan & Ferrell, 2001). A falta de um instrumento de medida preciso e válido das perceções que os trabalhadores detêm do desempenho da organização nas diferentes dimensões de RSO contribui, em nosso entender, para que a investigação sobre o tema não seja mais abundante. Neste contexto, o objetivo da presente pesquisa foi desenvolver e validar um instrumento de avaliação das perceções de RSO detidas pelos trabalhadores, que designámos de Escala de Responsabilidade Social Percebida (Escala de RSO-P). Ao focar-se no desenvolvimento de um instrumento direcionado à avaliação das perceções dos trabalhadores, esta pesquisa distancia-se de outros estudos que se focam na avaliação das perceções de outros membros organizacionais, como sejam os gestores (ex., Maignan & Ferrell, 2001; Turker, 2009). Um dos desafios desta pesquisa passou por captar a multidimensionalidade do conceito de responsabilidade social. Para tal, foram identificadas 34 práticas organizacionais que refletem diferentes dimensões de RSO a partir da revisão de literatura (ex., Comissão Europeia, 2001) e também da realização de um estudo qualitativo sobre o significado social do conceito de responsabilidade social (Duarte et al., 2010). Seguiram-se depois as etapas habituais no desenvolvimento de instrumentos de medida, incluindo a aplicação do instrumento a uma amostra de 840 trabalhadores de sete organizações portuguesas de diferentes setores de atividade. No que respeita à validade de construto e estrutura fatorial da escala, a realização de análises fatoriais exploratórias (SPSS 17.0) e confirmatórias (AMOS 17.0) permitiu reduzir o número de práticas incluídas na Escala de RSO-P para 16 itens. Constatou-se que as 16 práticas se organizam em três fatores de primeira ordem, designados por a) Responsabilidade social face aos trabalhadores, b) Responsabilidade face à comunidade e ambiente, e c) Responsabilidade social económica (X2=295.584; df=101; TLI=.93; CFI=.94; RMSEA=.07). Adicionalmente, a escala de RSO-P revelou capacidade para discriminar as respostas de trabalhadores de organizações com e sem uma política declarada de RSO. A obtenção de correlações positivas e estatisticamente significativas entre as perceções de RSO e os níveis de satisfação no trabalho e de implicação organizacional dos respondentes fornece também evidências adicionais da validade da escala. Relativamente à precisão, as correlações item-total (entre .53 e .61) e inter-itens (entre .36 e .48) são superiores aos valores recomendados na literatura (Hair et al., 2006) e os níveis de alfa de Cronbach obtidos para cada fator mostram que os mesmos possuem uma consistência interna adequada (entre .75 e .89). No global, esta pesquisa oferece evidências de boas qualidades psicométricas da escala desenvolvida, sugerindo que a mesma constitui uma medida útil para avaliar as perceções dos trabalhadores relativamente à responsabilidade social da organização em que trabalham.