A gestão de recursos humanos: uma perspetiva sociológica!

Autores

  • Maria Manuel Serrano Universidade de Évora e SOCIUS-ISEG/UTL

DOI:

https://doi.org/10.26537/iirh.v0i4.2118

Resumo

Esta comunicação procura refletir sobre os contributos da Sociologia para a compreensão dos fenómenos organizacionais em geral e dos sistemas de GRH, em particular. Trata-se de uma perspetiva necessariamente diferente da perspetiva da Gestão, mas entre as quais é possível encontrar complementaridades e divergências. Em finais de 1980, o debate sociopolítico sobre a reabilitação da empresa e o regresso do interesse da Gestão pelos fatores humanos, contribuem para a formação da sociologia da empresa. A realização e divulgação de trabalhos sociológicos, veio confirmar que as empresas são portadoras de efeitos sociais e fonte de representações coletivas e que, de modo recíproco, o sistema social interfere na vida da empresa (Sainsaulieu e Segrestin, 1987). É neste contexto que a GRH surge como novo modelo ideal-tipo. Assiste-se a uma espécie de revolução no pensamento dos dirigentes das empresas, que passam a preocupar-se, pelo menos ao nível do discurso, com experiências sociais, condenação do taylorismo, procura de estruturas mais motivantes, reativas e participativas, desburocratização, projetos de empresa negociados, políticas de informação, análises sociais e culturais do pessoal, gestão do emprego ou incentivos à criatividade. Estas práticas geram fenómenos de interferência entre o discurso da gestão e a análise sociológica. Quanto mais a Gestão apelava à implicação das pessoas na qualidade do seu desempenho, mais a Sociologia sentia a necessidade de contar com os coletivos. A Sociologia, atenta às dinâmicas de reprodução e de transformação dos conjuntos humanos estruturados constrói a sua própria perspetiva da GRH. Na perspetiva sociológica, a ação das empresas sobre os RH vai para além da atenção dispensada aos indivíduos pois implica, entre outros aspetos, motivá-los para o trabalho de modo a assegurar a continuidade da empresa e a manutenção dos empregos (Serrano, 2009). Enquanto a GRH surge associada a uma lógica racional destinada à realização de objetivos instrumentais, a sociologia remete para a reflexão e análise das práticas sociais inerentes à gestão das organizações. A sociologia “aumentou a nossa compreensão da realizada social, da qual os gestores são parte essencial (...), proporcionou uma contribuição não só útil como fundamental, esclarecedora de ambiguidades e situações difíceis que todos, sem exceção experimentamos” (Reed, 1997: 167). No âmbito das complementaridades e divergências entre sociologia e gestão, o sociólogo deve empenhar-se em compreender a empresa e em mostrar a natureza dos problemas que estão realmente em causa, na empresa em particular e na sociedade em geral. Cabe ao sociólogo olhar para a organização como um estrutura social composta de relações sociais, discursos e práticas, por vezes, não resolúveis no âmbito do paradigma científico racional, o que implica o desenvolvimento de uma análise de natureza sociológica (Serrano, 2003). A diferenciação entre os papéis do sociólogo e do gestor na empresa, reside na especificidade da disciplina aplicada. Enquanto o gestor “é fundamentalmente, um decisor, um indivíduo que, usando conhecimentos, técnicas, informações e instrumentos vários, tem de tomar decisões em ordem à prossecução dos objetivos explícitos da empresa, o sociólogo é, essencialmente, um especialista de estudo e aconselhamento, um elemento de staff” (Freire, 2001: 21-22).

Publicado

2014-04-04

Como Citar

Serrano, M. M. (2014). A gestão de recursos humanos: uma perspetiva sociológica!. Conferência - Investigação E Intervenção Em Recursos Humanos, (4). https://doi.org/10.26537/iirh.v0i4.2118