O calcanhar de Aquiles das competências transversais dos recursos humanos: será que há lugar para a moral entre as competências técnicas e transversais?

Resumo

Diversas entidades (Comissão Europeia, ONU, governos de vários países, meios de comunicação social, organizações não governamentais e as próprias empresas) esforçam-se por aumentar o nível de desempenho ético e de responsabilidade social de empresas com o intuito de conseguir, a longo prazo, o aumento do seu desempenho económico e, por essa via, da economia como um todo. A maioria destas entidades empenha-se para promover as competências transversais (soft skills) enquanto promotoras da empregabilidade (redutoras do potencial desemprego) dos recursos humanos. Alguns dos investigadores das competências transversais incluem qualidades éticas/morais na categoria de competências transversais (sendo ambígua a articulação entre as duas), enquanto outros parecem pô-las à parte, assumindo-as como uma categoria diferente. Uma dicotomia semelhante também tende ser característica dos filósofos da moral/ética. De qualquer modo, a posse de determinadas competências transversais (capacidade de trabalho em equipa, facilidade de resolver problemas, pro-atividade, facilidade de relacionamento, etc.) e/ou de competências técnicas, não parece ter qualquer impacto (não predetermina, nem é predeterminada) sobre as competências éticas. Mais ainda, as empresas parecem valorizar mais determinadas competências transversais, mas para além das declarações sobre a responsabilidade social (triple bottom line) e sobre a importância de ética, parecem não atribuir valor às competências éticas, por vezes, até, consideram-nas perturbadoras ou contraproducentes ao alcance do objetivo económico (bottom line). O presente texto tem como o objetivo apresentar a problemática, as incongruências na prática e na teoria, entre as declarações e a ação, servindo como o ponto de partida para uma investigação empírica. A metodologia utilizada baseia-se na revisão da literatura sobre o assunto em questão e, para complementar o raciocínio desenvolvido ao longo do texto, recorre-se à descrição e à análise de casos mediáticos da vida social portuguesa que evidenciam as incongruências hipotetizadas.