O que esperam os trabalhadores dos sindicatos?: entre militantes e clientes
DOI:
https://doi.org/10.26537/iirh.v0i3.1772Resumo
Portugal, à semelhança dos restantes países do sul da Europa, tem vindo a viver ao longo das últimas décadas um período marcado pelo forte declínio da filiação sindical (Dornelas, 2000) com a consequente diminuição da capacidade das estruturas de representação coletiva dos trabalhadores em se afirmarem enquanto interlocutores no quadro dos mecanismos de negociação coletiva e de regulação laboral. Este declínio pode ser explicado a partir de um conjunto articulado de circunstâncias socioeconómicas e histórico-culturais (Pichault e De Coster, 1998) associadas não só à crise do movimento sindical mas também à crescente individualização das relações de trabalho e à alteração dos tradicionais equilíbrios entre capital e trabalho. Neste quadro, e na ausência de estudos sistemáticos sobre os mecanismos que determinam a filiação/desfiliação sindical em Portugal, afigura-se-nos relevante procurar compreender as razões que levam os trabalhadores a aderir aos sindicatos e, em particular, o tipo de relação que com estes estabelecem. Assim, recorrendo a uma amostra de conveniência constituída por 25 trabalhadores com diferentes tipos de relação sindical, realizamos um estudo qualitativo de natureza exploratória com base num conjunto de entrevistas semi-diretivas tendo em vista compreender a sua situação perante a sindicalização, as suas simpatias sindicais e a avaliação que fazem da ação sindical. Os resultados permitem-nos realçar o carácter dinâmico dos processos de sindicalização, a existência de diferentes simpatias sindicais bem como uma expectativa face à ação sindical fortemente marcada ora por uma lógica de cliente ora por uma lógica de militante.