O Modus Operandi do Escritor: Desconstrução do Ato Criador Poético a Partir da Análise do Ensaio a Filosofia da Composição de Edgar Allan Poe

Résumé

A complexa teoria de Edgar Allan Poe sobre o processo de criação literária é pautada por dois pontos essenciais: em primeiro lugar, uma obra literária de arte deve criar uma unidade de efeito no leitor, designada por “efeito único pré-concebido”, para ser bem-sucedida; em segundo lugar, a produção deste efeito não deve ser relacionada com o domínio da inspiração, mas com um processo racional empreendido pelo escritor, que determina os pormenores estilísticos e temáticos da obra, o que enfatiza a simbiose do ato criador poético com as faculdades mentais do criador em oposição à estética romântica que o encarou como um fenómeno puramente intuitivo (Silva: 1967). Na poesia, este efeito desperta a perceção de beleza, constituindo "a província do poema " (Poe 2016:38), conceito que o autor associou com a melancolia, estranhamento e perda; em prosa, este efeito constitui a revelação de uma verdade, tal como se verifica nas obras artísticos que evocam o terror, a paixão ou o horror. Assim, tendo como ponto de partida A Filosofia da Composição (1846), ilustramos o modus operandi do escritor, ou seja, a sua forma metódica de operar na criação literária, que Poe descreve "com a precisão e sequência rígida de um problema matemático" (ibidem: 36), utilizando como exemplo as etapas envolvidas na elaboração do poema "The Raven". De modo a explicitar a teoria subjacente ao processo de criação artística no presente ensaio estudamos, igualmente, a extensão, o método e a unidade de efeito, articulando distintas perspetivas relevantes nesta área dos estudos literários.