Europeus e Indígenas na América Portuguesa: Perspectivas de Interculturalidade
DOI :
https://doi.org/10.34630/erei.vi4.3950Mots-clés :
América Portuguesa, InterculturalidadeRésumé
Neste artigo pretendemos analisar, numa perspectiva histórica, aspectos dos intercursos culturais vivenciados entre o Velho Mundo e o Novo Mundo, descoberto e inventado no alvorecer dos tempos modernos. A expansão europeia e a formação dos impérios coloniais a partir do século XVI propiciaram a criação de mercados transnacionais, relações sociopolíticas diversificadas e, sobretudo, dinâmicas culturais, envolvendo europeus, africanos, asiáticos e populações indígenas do Novo Mundo, especialmente da América Portuguesa, as quais despertaram inquietações religiosas e científicas nos círculos intelectuais da época. Enfocamos os trânsitos culturais demarcados, especialmente, a partir das manifestações do sagrado. Entendemos a religião como um aspecto da cultura, formadora de sentidos, de representações, discursos e práticas, conforme a perspectiva teórica da História Cultural, formulada por Roger Chartier (1990). Os Estudos Culturais têm provocado um intenso debate acadêmico nas diversas áreas do saber, recentemente vêm se alargando na oficina dos historiadores, possibilitando abordagens mais refinadas sobre o cotidiano, as relações socioculturais entre os indivíduos e os diversos grupos sociais que constituem as sociedades, rompendo com paradigmas metodológicos que privilegiavam, apenas, os aspectos políticos e macroeconômicos. Quanto ao conceito de Interculturalidade, concebido no contexto das nações europeias multiculturais a partir da década de 1970, convém ressaltar o uso, inicialmente, na Antropologia, Ciências da Educação, nos Estudos Literários e Linguísticos e Comunicação como uma resposta às demandas da diversidade cultural proporcionada por um mundo globalizado, em permanente tensão entre o local e o global, entre o regional e o nacional. 2 A categoria interculturalidade traz no seu bojo a dificuldade de observá-la nas relações concretas entre os diversos povos e culturas que mantiveram ao longo da trajetória humana relações de subalternidade, projetos coloniais, visões e práticas etnocêntricas. No entanto, em meio a um pensamento hegemônico de dominação ou imperialismo cultural, é possível observar e destacar nas experiências vividas pelos agentes culturais, que tal visão hegemônica foi flexibilizada, ou rearranjada em compartilhamentos, convivências, trocas e encontros entre diferentes grupos. No “ diálogo intercultural, a troca não é apenas de saberes, mas também entre diferentes culturas, ou seja, entre universos de sentido diferentes e, em grande medida incomensuráveis.”(SANTOS;1997,p.23) Nos estudos literários, o conceito de interculturalidade vem sendo trabalhado com frequência. Analisando a obra literária de Jorge Amado, Rita Godet destacou a sua relevância no entendimento das referências culturais diversas que formaram a realidade brasileira e como o autor baiano imbuído de uma “ética intercultural”, sugere “uma rearticulação de saberes que aposta num processo de recomposição cultural capaz de gerar uma nova identidade compósita” (GODET, 2014, p.30). Portanto trata-se de um conceito polissêmico, adequado à busca de um conhecimento interdisciplinar como os Estudos Culturais. Tendo como chave hermenêutica que a religião é cultura, defendemos que no difícil diálogo travado entre os europeus e os indígenas no território colonial brasileiro, a religiosidade foi fundamental, como mediação entre dois universos e contextos distintos e estranhos: o Renascimento cultural do século XVI vivido na Europa e a inauguração da experiência vivida pelos indígenas brasileiros de conviverem com o outro, absolutamente estranho, após 1500 com a ocupação do território pela monarquia portuguesa. Na América Portuguesa, a Igreja Católica desempenhou importante papel, calcada numa visão de cristandade, de tentativa de homogeneização e exclusivismo religioso e cultural, porém cristãos reformados também entraram em contato com a população indígena e registraram representações, a partir das vivências que tiveram no território colonial brasileiro, na segunda metade do século XVI. Analisamos as similaridades e as divergências no pensamento católico e protestante a respeito da religiosidade dos grupos indígenas, bem como as tentativas de catequização desenvolvidas entre as comunidades indígenas. Pretendemos analisar a interculturalidade no campo religioso da América Portuguesa do primeiro século da colonização, baseado em cronistas do século XVI, a exemplo de Jean de Léry, um calvinista francês e do católico frei André de Thevet, que circularam na Guanabara e Hans Staden, um luterano alemão, que visitou Pernambuco e São Vicente
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