Women's New Social Role: Perspectives on Learning from the Kurdish Women's Liberation Movement
DOI:
https://doi.org/10.34630/erei.v3i9.4224Keywords:
Novo papel social da mulher, Médio Oriente, Mulheres Curdas, JineolojîAbstract
Mesmo a partir de uma perspetiva de estudos crítica e feminista, é comum interiorizamos a narrativa geral tida acerca das mulheres do Oriente Médio – que perpetuam os estereótipos da “mulher oprimida” que “precisa de salvação (Spivak, 1988, p.2). Os efeitos deste olhar colonial vêm-se a refletir em todas as esferas da sociedade ocidental – inclusive na própria academia – segundo um processo o qual Said teorizou como Orientalismo (Said, 2004) Neste artigo procuro oferecer uma perspetiva que desmistifique estes estereótipos bem como construir outras perspetivas epistemológicas (Sousa Santos, 2014), utilizando ferramentas críticas desenvolvidas na luta de uma comunidade de mulheres não ocidentais: o Movimento de Libertação das Mulheres que surgiu há mais de 30 anos, no seio do Movimento de Autodeterminação do Povo Curdo. Depois de contextualizar historicamente o Movimento de Libertação das mulheres curdas, o meu objetivo é poder analisar a teoria crítica da Jineolojî – a “Ciência das Mulheres” , teorizada em 2011 a par com as soluções práticas que se desenvolvem no terreno, exemplificando uma articulação de papéis de género, famílias e sociedade que desconstrói as tradicionais categorias de pensamento científico hegemônico, assumido como eurocêntrico e masculino (Federici, 2004).Em primeiro lugar, esta articulação vinculante – entre género, família e sociedade – vai ser analisada mediante o material produzido pelo próprio movimento e pelo líder Ocalan que também têm teorizado sobre o assunto: “A frustração masculina em relação às condições existentes é dirigida contra o suposto membro “frágil” da família: a mulher. A família como instituição social está em crise. A solução desta crise familiar, assim como de outras crises, encontra-se no contexto de uma democratização completa.” (Ocalan, 2008, p.37). Em segundo lugar, pretendo descrever como, através da Jineolojî as curdas formularam uma crítica à ciência tradicional do Ocidente, descrevendo-a como eurocêntrica, racista e machista. Na mesma linha teórica da crítica pós-colonial e descolonial, as críticas de jineolojî são relativas ao estatuto da 'objetividade' da ciência ocidental (Grosfoguel, 2011, pp.341-355) ou da relação hierárquica entre observador e observado (Sousa Santos 2018): ‘in which way has the relation between the social sciences and power developed and how has this relation distorted woman’s ontology? (Jineolojî, 2018, p.11). Assim, procuro demonstrar de que forma a Jineolojî propõe uma mudança dos paradigmas metodológicos e estruturais da ciência, abordando as suas oito principais esferas de ação: Estética-Ética, Economia, Demografia, Ecologia, História, Saúde, Educação e Política, onde procuram re-definir e re-enquadrar o papel e a representação da mulher, com a pergunta: ‘What are the origins of our statement regarding the problem of methodology in social sciences and the need for change?” (Jineolojî, 2018, p.11). O conceito de Jineolojî será analisado enquanto forma de ''conhecimento localizado'' (Haraway, 2009, pp.7-41), uma vez que as curdas definem conhecimento como resultado da acomulação de experiências práticas e regionais, tidas num contexto de luta contra o Estado Turco e o Estado Islâmico – em simultâneo, como possível nova epistemologia enquanto forma de construção de novos ''territórios assentes'' (Sousa Santos, 2002,) na Sociologia da liberdade (Ocalan 2019).
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