Um «Caso Exemplar» ou um «Exemplo Casual»?
DOI:
https://doi.org/10.26537/rebules.v0i4.786Abstract
Faz tempo, o autor destas linhas foi confrontado com o «caso» que a seguir se expõe de modo simplificado (e, naturalmente, com nomes fictícios).
AGENOR, já num quarto e serôdio casamento, mantinha, na maior discrição, relações extra-matrimoniais com CALISTA, também casada. Esta sempre cobiçara os inúmeros carros de alta cilindrada que aquele ciosamente possuía. Elanguescido pela idade, AGENOR acedeu às requestas da sedutora amante. Todavia, para se assegurar que a sua esposa de nada viria a saber, acordou com DOLÃO, procurador de CALISTA, e íntimo da sua casa -como mais à frente melhor se verá -, uma venda aparente. Venda que foi reduzida a escrito. Sucedeu ainda que DOLÃO, com o seu amigo ESQUIÃO, possuidor de um «stand de carros», tinha depreciado o valor da «máquina», a fim de remover as últimas resistências de AGENOR.
Entretanto, CALISTA, convertida momentaneamente aos preceitos da fidelidade conjugal, deixou de corresponder às pretensões do amante. No ínterim, quase dois anos, o automóvel permaneceu «nas mãos» de DOLÃO.
Mais tarde, ESQUIÃO, consciente de que a venda anterior escondia uma doação, mas ignorando os meandros da vida amorosa de AGENOR, convenceu DOLÃO a vender-lhe o valioso automóvel, sob ameaça de inconfidência acerca do «affair» que no passado aquele mantivera com a esposa de AGENOR. Contudo, à altura, DOLÃO já não detinha poderes para agir em nome de CALISTA. A qual, porém, quando finalmente soube que lhe tinha sido doado o carro e que este fora vendido posteriormente, se apressou, na ignorancia das peripécias ulteriores, a receber o preço.
Volvidos mais dois anos, AGENOR, depeitado pelo repúdio intransigente de CALISTA, e ceinte agora do valor do disputado automóvel, pretende reavê-lo.