Um Burro Surrealista Num Pic-Nic Burguês
DOI:
https://doi.org/10.34630/e-rei.vi13.6316Palavras-chave:
Surrealismo literário português, Paródia, Mário Cesariny, Fernando Pessoa, Cesário VerdeResumo
Partindo das clássicas e há muito estabelecidas conceções de intertextualidade e de paródia, das quais, de modo breve, introdutório, darei conta, irei analisar a forma sui generis como o surrealismo literário português se apropriou, de modo idiossincrático, da linguagem parodística para veicular através dela as suas diretrizes iconoclastas, tornando-a uma linguagem altamente questionadora dos sistemas vigentes, incluindo o literário. Fixar-me-ei, especialmente, em dois textos chave parodísticos de Mário Cesariny que reescrevem intertextualmente dois poemas; um de Fernando Pessoa, outro de Cesário Verde. Deste modo, ver-se-á como, para lá dos automatismo, do cut-up, da stream of consciousness, havia também um lado derrisório, programático, bem ancorado na realidade histórica, no surrealismo literário português, no qual os seus textos autorais, em especial através dos procedimentos parodísticos, serviam, sobretudo, para que os escritores se posicionassem de modo assertivo, como sucede em Cesariny, relativamente a outros movimentos e ideações literárias, tomando partido, marcando diferenças, tecendo afinidades eletivas, etc. Foi o que Cesariny fez em relação ao modernismo de Orpheu e ao impressionismo literário de Cesário.
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