Anel de Vidro: Uma Novela em Quatro Capítulos

Resumo

Anel de Vidro, primeira obra ficcional de Ana Luisa Escorel, publicada pela pequena editora Ouro sobre Azul, da qual é proprietária, foi eleito o melhor livro de 2014 pelo Prêmio São Paulo de Literatura, que, até então, nunca havia sido dado a uma mulher. Esse ineditismo revela, entre outras coisas, a pouca visibilidade da literatura produzida por mulheres no Brasil. Pretende-se, partindo desse aspecto negativo da realidade literária brasileira, analisar essa obra de autoria feminina que aborda o tema do casamento e da infidelidade, na qual voz da protagonista se sobrepõe às das personagens masculinas. No que tange à forma diferenciada da escrita escoreliana, analisaremos a sua natureza “minimalista”, optando, por esse motivo, em tratar o texto como uma novela, devido à sua extensão breve e concentrada. Sua potência estética, desenvolvida a partir de uma linguagem que é sofisticada e inteligível, reflete a extrema sutileza de uma escritura de detalhes precisos que lembram tanto a estrutura de um conto como de um poema, e permite criar intertextualidades com a poesia de Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade. Por esse recorte, esta análise visa a valorizar a inserção decidida da autora, editora e designer gráfica Ana Luisa Escorel no mercado livreiro, através de uma narrativa que destoa da maior parte das obras de ficção contemporânea produzidas no país, cujo domínio ainda é marcadamente masculino.