Bem-estar subjetivo e seus determinantes: a realidade portuguesa e de alguns países da União Europeia nos anos 2000

Autores

  • Carla Porto ISCTE/IUL
  • Helena Lopes ISCTE/IUL
  • Teresa Calapez ISCTE/IUL

DOI:

https://doi.org/10.26537/iirh.v0i4.2140

Resumo

Desde o final de 2008 que o tema da crise económica e financeira internacional e das suas repercussões dominam as manchetes noticiosas, os discursos políticos e as conversas informais entre cidadãos comuns. Mesmo que não entenda muitos dos complexos conceitos da economia, o cidadão sente a influência que o contexto macroeconómico exerce na sua vida diária e no seu bem-estar. O interesse académico pela influência que as flutuações macroeconómicas podem exercer sobre a felicidade e a satisfação com a vida do cidadão-comum remonta aos anos 60 do século passado e veio agora assumir uma nova dimensão. Seguindo esta linha de interesse, o presente estudo visa compreender quais os fatores determinantes do bem-estar subjetivo em Portugal e em alguns países da União Europeia (EU) entre 2002 e 2010, sejam fatores de natureza macroeconómica, sociodemográfica ou outra, e como se caracterizou o bem-estar subjetivo dos portugueses nos anos após o despoletar da crise económica e financeira. Para tal, analisaram-se os dados de bem-estar subjetivo de mais de 140 000 participantes de 15 estados-membros da UE, incluindo Portugal, provenientes do European Social Survey e os indicadores macroeconómicos proporcionados pelo Eurostat. Os resultados revelam que o bem-estar subjetivo dos europeus é influenciado pelas flutuações macroeconómicas, embora em Portugal esta influência não seja tão clara. Verificou-se também a existência de um padrão sociodemográfico constituído por variáveis como a idade, o género, o estado civil, a escolaridade ou a situação perante o trabalho na determinação do bem-estar subjetivo e que a perceção dos indivíduos sobre o seu estado geral de saúde e sobre a perceção da adequação dos seus rendimentos face às despesas correntes influencia o bem-estar subjetivo dos cidadãos. Este padrão sociodemográfico de influência sobre o bem-estar subjetivo é, no entanto, constituído por menos variáveis determinantes para o caso português do que para a generalidade dos países europeus. A influência da confiança social e da confiança institucional no bem-estar subjetivo também se revelou significativa e particularmente pertinente. Observou-se ainda que a tendência de evolução dos níveis médios de bem-estar subjetivo é de subida progressiva a partir do ano 2006, sendo os valores médios de bem-estar subjetivo de 2010 superiores aos de 2008. Tal acontece em todos os fatores determinantes considerados. Os níveis médios de confiança social revelaram-se também superiores em 2010 comparativamente a 2008. Tais resultados levam-nos a levantar a hipótese de que a crise económica tenha feito os cidadãos nacionais mudarem a valorização que dão aos aspetos da sua vida que possam influenciar a sua felicidade e satisfação, passando a valorizar mais os relacionais em detrimento dos materiais. Mas poderá esta reação resistir ao aprofundamento da crise e ao empobrecimento efetivo dos portugueses?

Publicado

2014-04:-04

Como Citar

Porto, C., Lopes, H., & Calapez, T. (2014). Bem-estar subjetivo e seus determinantes: a realidade portuguesa e de alguns países da União Europeia nos anos 2000. Conferência - Investigação E Intervenção Em Recursos Humanos, (4). https://doi.org/10.26537/iirh.v0i4.2140