Cidadania ecológica e gestão de RH: estudo de caso no setor químico português

Autores

  • Olga Branco ISCTE/IUL
  • Francisco Nunes ISCTE/IUL

DOI:

https://doi.org/10.26537/iirh.v0i3.1824

Resumo

Em 1995 Shrivastava afirmou que para as organizações integrarem o ambiente na estratégia principal tinham de efetuar mudanças totais na maneira de pensar e fazer o negócio. O reconhecimento de que as mudanças tinham de ser profundas tardou (mais de uma década) mas chegou aos gestores que associam a atuação ecológica à razão de ser da organização, fazendo depender desta o alcance de vantagens competitivas (cf. United Nations, Global Compact-Accenture CEO Study, 2010). Entretanto, a literatura dos campos da identidade organizacional (IO) e da estratégia, que há décadas andam de costas voltadas, parece não ter mais como divergir. Tal sucede devido a propostas teóricas que se afastam da visão construtivista, para enveredar pela da construção discursiva ou racionalista da IO (e.g., Sillince & Simpson, 2010). Também em termos empíricos são raras as exceções em que as mudanças estratégicas não acarretam mudanças identitárias e vice versa. Na presente investigação optou-se, assim, por investigar a IO. Na literatura a IO é conhecida pela sua definição clássica, propostas por Albert e Wetthen (1985) que refere que esta é o que a organização tem de central, distinto e que se perpetua. Note-se que o estatuto de elemento que se perpetua tem sido o principal impedimento da sua associação à estratégia, assim como a limitação às influências contextuais e ainda a dificuldade de conciliar o nível de análise individual e organizacional. Com o intuito de compreender como é que as transformações identitárias e estratégicas decorrentes da sua elaboração discursiva, quer da parte da equipa de gestão, quer dos colaboradores, influenciam as opções estratégicas em matéria de ambiente, efetuou-se um estudo de caso em duas organizações do setor químico português. As organizações foram selecionadas com recurso à theorethical sampling, apresentando semelhanças num conjunto de características à exceção das estratégias ambientais, sendo A proativa (antecipa as exigências legais e integra o ambiente totalmente no processo produtivo) e B reativa (simplesmente adota as medidas ambientais quando são impostas sendo as mesmas de fim-de-linha). Através da composição das narrativas e análise de conteúdos constatou-se que enquanto A tratava as questões ambientais como um problema identitário B apenas o fazia como um problema estratégico. Pelo que o stress identitário de A contrasta com a inércia de B. Para além de que em A a equipa de gestão adota uma postura consultiva contrapondo-se a B que é persuasiva. Na organização A há assim vários tipos de narrativas que promovem a indefinição identitária e estratégica com vista a promover a participação dos colaboradores. De facto, a participação dos colaboradores acaba por ser fundamental, sendo através da argumentação na identidade e estratégia de trabalho que vão surgir as principais reconstruções com impacto identitário e estratégico. Foi particularmente interessante constatar que a proatividade ou cidadania ecológica estão dependentes de um conjunto de táticas de gestão da IO tais como a criação de plataformas identitárias estabilizadoras, e a própria seleção de candidatos. Em termos teóricos chama a atenção do papel da equipa de gestão nas abordagens discursivas, verificando-se que vai além do alinhamento e desalinhamento com os valores centrais, através da promoção da identificação dos colaboradores.

Publicado

2014-04:-04

Como Citar

Branco, O., & Nunes, F. (2014). Cidadania ecológica e gestão de RH: estudo de caso no setor químico português. Conferência - Investigação E Intervenção Em Recursos Humanos, (3). https://doi.org/10.26537/iirh.v0i3.1824